«1. Há cem mil professores que estão a ser usados como arma de arremesso político.
Não têm assim tanto peso eleitoral, mas têm uma profissão de grande relevância, demonstram uma enorme capacidade de mobilização e são capazes de ocupar, como poucos, o espaço público e mediático. São como mel para moscas e há, por isso, em permanência, vários atores políticos a salivar com o seu quinhão. A começar pelo principal líder sindical, Mário Nogueira, que quer tudo e não aceita nada, como se estivesse imbuído de um desígnio divino. E que, em três dias, passa da vitória total à derrota final. Passando pelo PS, que não queria dar tudo, mas aceitava dar alguma coisa, e acabou a martelar os números, para aprofundar o drama e argumentar que estava em causa o futuro do défice e da pátria. Continuando por PSD e CDS, tão desejosos de criar problemas aos socialistas que são capazes de dar tiros nos próprios pés e exibir a ferida com orgulho... até lhes começar a doer. Terminando no PCP e no BE, que fogem agora como o diabo da cruz de "coligações negativas", ainda marcados pelo trauma psicoeleitoral do chumbo ao PEC IV de Sócrates.
2. São mais de 600 mil pessoas. Não são usadas como arma de arremesso político, porque, apesar do peso eleitoral seis vezes maior que o dos professores, não têm profissões relevantes, não se mobilizam para a luta e têm escassa atenção pública e mediática. São os portugueses que vivem em privação material severa. Em todos e cada um dos dias da sua vida. É verdade que é o número mais baixo dos últimos 15 anos. Mas ainda são 615 mil. Que não são apenas pobres, mas os mais pobres dos pobres. Não é uma boa razão para ultrapassar os limites do défice a que Mário Centeno se agarra com unhas e dentes? Não dá para organizar uma coligação negativa e aprovar um decreto que avance com um programa decente de combate à pobreza, mesmo que com salvaguardas ao crescimento económico e atirando o impacto orçamental para 2020? Não? Bem me parecia...»
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