27.5.19

Uma vitória que não parece “poucochinho” num cenário que pouco muda



Excerto de um texto de Daniel Oliveira, publicado ontem à noite.

«Em resumo: para o ambiente político de que precisa, o PS conseguiu o resultado que desejava, ficando bastante destacado do PSD. A verdade é que o PS tinha quatro pontos percentuais acima do PSD e do CDS juntos que, em 2014, lhe deu uma vitória “poucochinha”. Agora tem cinco. Ninguém fará esta conta e isso é que interessa.. O Bloco de Esquerda é, com o PAN, o que mais tem a festejar nesta noite, recuperando a vantagem à esquerda. Uma vitória pessoal de Marisa Matias, que veremos se o BE consegue transportar às legislativas. A CDU fica numa situação muito difícil e a dificuldade dos comunistas mata à nascença o sonho infantil de fazer uma geringonça a dois. Não vai acontecer. O CDS talvez aprenda que a radicalização do discurso, tentada por Nuno Melo, não resulta. E o PAN, que terá um papel nas próximas legislativas, prova que não foram os temas europeus que moveram o voto de protesto. Bem exprimido, a esquerda à esquerda do PS teve 17% em 2014 e tem 16% em 2019. O PS teve 31,5% e tem 33,5%. A direita teve 28% e tem 28,5%. E um partido vindo de fora, e que serve bem a função do protesto, teve 7,% e agora tem 4,5%. Não mudou muito em cinco anos.

Depois há o impacto real que os resultados nacionais têm em Portugal, sobretudo sabendo que há eleições legislativas em outubro. Devemos ter em conta aquilo que já sabemos de europeias anteriores. Que os partidos extraparlamentares costumam ter a vida muito mais facilitada em legislativas, que não têm um circulo único e onde a pressão do voto útil é inexistente. Que o PCP, com um eleitorado mais fiel, costuma ser beneficiado em eleições onde a abstenção é maior. E que os partidos da oposição tendem a ter melhores resultados nas europeias, não sendo isso um padrão seguro. Vistos os resultados, percebemos o que andou a fazer António Costa. Não andou a falar da oposição à extrema-direita, andou a negociar com os liberais a forma destes e os socialistas poderem competir por lugares com os populares. É só sobre isso que se fala na Europa.

Nenhum destes resultados terá grande peso nos equilíbrios do Parlamento Europeu. Farei uma análise dos resultados no resto da Europa para o texto de terça-feira. Apenas uma ideia simples: que apesar do alívio absurdo a extrema-direita ganhou mais espaço, que os verdes foram os grandes vitoriosos da noite, que os conservadores caíram muito e os sociais-democratas se despenharam aparatosamente, não sendo provável que aprendam que alianças à direita os fazem perder votos para todos os lados. É provável que com os votos do partido unipessoal de Emanuel Macron chegassem para que os socialistas europeus ficassem à frente do PPE. Mas o aliado de Costa foi para os liberais. E é com eles que os socialistas falarão para conseguir lugares na luta contra os populares. As lições desta eterna cedência e incapacidade de construir um discurso próprio ficam para daqui a cinco anos, quando desaparecerem mais um pouco.»
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1 comments:

Abraham Chevrolet disse...

Os comentadores priapicos terminam (?) as suas teorias sem esperarem pelos factos e depois temos um regabofe de gozo...então aumentou a abstenção? A CDU,coitada,perdeu um deputado?
Ai Oliveira,Oliveira o teu nome não engana, só te falta o S, de ssgaz...valha-te Deus!