«A população do Algarve, pouco acima das 400 mil pessoas, duplica no pináculo do calor. Instala-se um novo Algarve de turistas portugueses (fora os outros) no velho Algarve de residentes portugueses (fora os outros). Nada disto é novo. Como não é concluirmos que a imutabilidade pitoresca daquela geografia de excessos se presta, ano após ano, a visões menos condizentes com raios de sol e banhos de maresia. Vias de acesso congestionadas e decrépitas (não falo, obviamente, da A22, onde o assalto nas portagens é dos mais ultrajantes no nosso extenso mapa de extorsão rodoviária, mas sim da remendada mas inescapável EN125); um evidente excesso populacional e o decorrente impacto na sobrecarga das infraestruturas; e, sobretudo, uma resposta paupérrima ao nível dos cuidados de saúde. É sobre este último ponto que quero debruçar-me.
Num dos vários trabalhos que o "Jornal de Notícias" publicou sobre a região, contámos a história de Vera Correia e de Rui Costa, um jovem casal de Silves prestes a ter o primeiro filho, e de quão corajosa se tinha tornado a sua decisão de "programar" o primogénito para nascer no verão. Isto porque o parto pode coincidir com uma data em que a maternidade de Portimão esteja fechada. Ora, se Portimão não der resposta, Vera pode ir para Faro. Mas se Faro não der resposta (hipótese muito provável), o bebé tem de nascer em Lisboa. O marido, Rui, resume de forma cruel o drama desta e de tantas famílias que vivem num Algarve que os portugueses adoram adorar mas adoram esquecer. "Nós não somos ursos. Não existimos só nos meses de verão, para depois hibernarmos e acordarmos no ano seguinte".
Fernando e Alda certamente que concordam: decidiram mudar-se desse mesmo Algarve para Braga pelo direito à saúde. Ele é doente oncológico e desistiu de se tratar na região onde nasceu para poder salvar a vida. "Não há outra hipótese". Os algarvios, ao contrário do que sucede com os ursos-pardos, ainda não estão em extinção. Mas não é de esperar que, para o ano, acordem menos em perigo depois dos nove meses de hibernação e de esquecimento a que já os habituamos.»
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2 comments:
Uma maternidade em Vale do Lobo,outra na Praia dos Tomates,outra na Falésia e ainda outra na Praia da Coelha!!! Já!!! As banhistas grávidas unidas,jamais serão vencidas!
Por princípio, não faço propaganda aos directores dos jornais, nem aos seus mais directos colaboradores. Mas entendi, que este artigo, merece da nossa parte a maior atenção possível. Por isso, tomei a liberdade, de retirar este pequeno texto do artigo;(…)"Fernando e Alda certamente que concordam: decidiram mudar-se desse mesmo Algarve para Braga pelo direito à saúde. Ele é doente oncológico e desistiu de se tratar na região onde nasceu para poder salvar a vida. "Não há outra hipótese". Os algarvios, ao contrário do que sucede com os ursos-pardos, ainda não estão em extinção. Mas não é de esperar que, para o ano, acordem menos em perigo depois dos nove meses de hibernação e de esquecimento a que já os habituamos"!
Espero que aqueles que não gostam de ouvir as verdades, tenham a “coragem” de ler o artigo no seu todo.
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