Supõe-se, está vagamente escrito, que esse imperador
veio realmente do nada. Que nasceu algures numa choupana, filho de gente-nada
ou pouca-coisa, camponeses ao desabrigo. Que muito possivelmente estudou por
cartilhas de aldeia; por catecismos, também. Mais: a acreditar nos compêndios
das escolas, teria vindo ao mundo iluminado por Deus ─ e tanto assim que, ainda muito mocinho, fez ciência entre os
doutores.
Nessa altura chamava-se Francisco ou Vitorino; Adolfo,
talvez Adolfo Hirto; ou Benito Marcolino, Zé Fulgêncio, Sebastião Desejado ─ não interessa. O que
interessa é que quando deram por ele já tinha outro nome: Imperador, Dinosaurus
Um, Imperador e Mestre. Palmas.
«VIVA O MESTRE IMPERADOR!»
«VIVÓÓÓ...»
Teria
tido infância? Mistério:
neste ponto, os cronistas tropeçam no aparo e saltam uns anos. Limitam-se a
afirmar que já em criança tinha a marca inconfundível dos chefes, como mais
tarde se havia de provar quando o Reino apareceu assinado de ponta a ponta com
o nome dele. (...)
Saber & Autoridade era o seu lema; sua arma o
Silêncio. E sendo assim, tão orientado, é de admirar que tenha atingido o poder
que atingiu? Não estaria destinado por natureza a escapar às leis da morte, uma
vez que, sabe-se agora, toda a sua vida tinha sido feita à margem das leis dos
vivos?
Dinossauro, criatura marcada desde o berço, estava escrito que iria subir muitíssimo na asa da compostura, por cima dos casebres da aldeia e do palácio dos ricos, e que teria de tirar um curso que lhe desse para governar toda a gente. Leis, decidiu o padre local.»
Dinossauro, criatura marcada desde o berço, estava escrito que iria subir muitíssimo na asa da compostura, por cima dos casebres da aldeia e do palácio dos ricos, e que teria de tirar um curso que lhe desse para governar toda a gente. Leis, decidiu o padre local.»
José Cardoso Pires, Dinossauro
Excelentíssimo (excerto), 1972
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