30.9.19

Sem Educação Moral e Religiosa Católica não vale pena ir para a escola



«Sinto-me no dever de dizimar a ideia abjecta do Livre de querer acabar com a disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC) na escola pública. É escusado terminar com uma disciplina que é facultativa. Estamos num Estado laico e, por isso, temos de disfarçar que já não somos um Estado católico nominal. Até aqui funcionava muito bem. A religião católica tornou-se facultativa na escola para que os pais pudessem escolher entre frequentar EMRC ou ir à catequese. É o preço a pagar pela liberdade — as pessoas escolherem alternativas onde praticam a religião católica. Com o recrudescimento da esquerda, agora querem implementar o que está consagrado na Constituição. Não podemos permitir. Já não basta terem limitado a escolha de disciplinas católicas na escola, que se reduziram a uma, quando antigamente havia Álgebra Santa, História dos Três Pastorinhos e mesmo Gramática dos Milagres.

É esta a agenda da esquerda, querem salvar o planeta não sem antes eliminarem totalmente as emissões ideológicas de direita. Se querem eliminar a disciplina de EMRC podiam, ao menos, retribuir e eliminar disciplinas de esquerda, como Português. Todas as pessoas sabem que os professores ensinam poesia aos alunos. Ensinar poesia a pessoas pode levar a que as pessoas possam gostar de poesia. Ultraje! Os leitores de poesia ficam com sentimentos dentro delas que as fazem ficar muito sensíveis. Muitas delas acham que podem, elas mesmas, tornar-se poetas.

Não há nada mais fácil do que escrever poesia, é só colocar palavras ao calha no papel, em que a responsabilidade das palavras fica do lado do leitor, da interpretação que faz, dos sentimentos que lhe transmite. Daí que muitos leitores de poesia queiram ser escritores de poesia: passam a cerrar as sobrancelhas, porque estão em introspecção, compram um caderno Moleskine e passam a sentir que compreendem o mundo quando olham pela janela do metro. Se na esquerda há ódio à religião, saibam que a direita não suporta poetas, a pior espécie de pessoas que existe no éter da existência. Que porcaria de expressão! Falei em poetas e comecei logo a usar palavras de senhoras. Peço desculpa. Se é verdade que há religiões que têm fanáticos e matam pessoas, pelo menos fazem-no de uma forma eficaz, rapidamente. Já um poeta, quando começa a declamar, consegue torturar pessoas durante horas até as matarem de tédio. Agora decidam vocês quem é pior.

Esta proposta do Livre é desumana, sobretudo numa altura em que a disciplina de EMRC foi alargada aos cursos profissionais. Se já é difícil andar numa escola pública, onde pululam as crianças da pior espécie, imaginem o que é serem os maiores falhados dentro de um universo de falhados — os alunos dos cursos profissionais. Retirar o ensino de EMRC a estes seres, a única réstia de esperança para serem salvos pelo Dr. Jesus, é o mesmo que lhes oferecer uma corda, um tamborete e uma trave mestra.

Acabar com uma das últimas disciplinas que ainda confere alguma legitimidade ao ensino público, logo após programação em C++ para recém-nascidos, é em última instância afundar ainda mais o ensino público. É um ter/não ter.

Ter a disciplina de EMRC aproxima o ensino público dos colégios privados ligados à Igreja Católica, estando a maior parte no topo dos rankings de notas escolares. Ter o Dr. Jesus do lado dos alunos implica uma maior probabilidade de haver bom aproveitamento escolar, até porque foi ele que disse: “É mais fácil um menino do Colégio Jesuíta entrar num MBA do que um sociólogo descontar em sede de IRS.” Ter o Dr. Jesus presente nas escolas oferece menores probabilidades de termos alunos a quererem frequentar cursos de Letras.

Não ter o Dr. Jesus curricula implica deixarmos as nossas crianças inocentes de poderem sofrer uma lavagem cerebral por parte do professor de filosofia, que tenta ensinar o sentido da vida através de metafísica, quando deveríamos ter professores de filosofia licenciados em Recursos Humanos; professores que diriam: “O sentido da vida é pensar menos e produzir mais. Só o mercado livre dá sentido à vida.”

Não ter o Dr. Jesus faz com que os professores de História continuem a dizer que o crash da bolsa de 1929 e o 11 de Setembro foram negativos. É verdade que tiveram alguns efeitos menos bons, mas, se há coisa que o Dr. Jesus nos ensina, é que devemos “olhar sempre para o copo meio cheio” (Dr. Jesus dixit in A Bíblia), olharmos para o lado positivo de eventos eventualmente menos bons. No caso do crash da bolsa de 1929, aprendemos que houve consequências negativas, como o nascimento do Estado-Providência, que passou a meter-se no mercado livre — em último caso, se quisermos, no próprio conceito de liberdade. Mas, por outro lado, percebemos que a melhor forma de combater um debacle financeiro é criar entidades financeiras ainda maiores, de modo a que quando essas entidades financeiras voltarem a provocar crises económicas, haverá menos falências de bancos porque o Estado tem a obrigação de salvar o mercado livre. No caso do 11 de Setembro aprendemos que o terrorismo pode ser mau mas, por outro lado, permitiu a ascensão de um dos maiores políticos que o planeta Terra viu nascer: o Dr. Durão Barroso.

Ter o Dr. Jesus na escola é ter a mão direita de Deus na escola que é, como se sabe, um eufemismo para a mão invisível do capitalismo. Não ter o Dr. Jesus é deixar de ter o segurança que ainda conseguia barrar o socialismo à porta e ainda encaminhava algumas crianças para cursos de gestão. Não ter o Dr. Jesus é acabar com a escola pública. O que é triste, não por terminar, mas por ter sido o Livre a reiniciar um processo que o Dr. Pedro Passos Coelho iniciou.

Se pensarmos a fundo, acabar com disciplinas facultativas é cingir os alunos à obrigatoriedade, é impor um percurso único que oprime a liberdade de poder escolher. Impedir alternativas é impor a ditadura da escola pública. Primeiro, a esquerda começou por abater colégios privados, agora está a tentar assassinar a religião na escola, qualquer dia defenestra meninos que vão para a escola vestidos com pólos Lacoste.

Em vez de estarem a propor a proibição de disciplinas facultativas, devíamos todos, enquanto sociedade, oferecer mais alternativas à escola pública, dar maior liberdade ao ensino e referendar novas disciplinas junto dos alunos. Por exemplo, Tourada como alternativa a Educação Física, Rap como alternativa a Português, Excel como alternativa a Matemática, Vídeos de Youtubers como alternativa a Ciências da Natureza, hiperligações da Wikipédia como alternativa a tentar enganar os professores em trabalhos de grupo. E, por que não, referendar se preferem ir para a escola ou não? A liberdade está no poder de escolha, nunca na opressão da escola pública.»

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