30.12.19

Igualdade, ficção científica



«2019 termina como começou. Só no mês de janeiro foram mortas oito mulheres em contexto de violência doméstica. Nestes últimos dias do ano, sucedem-se homicídios e explicações que mostram o quanto o sentimento de posse continua a dominar as relações.

"Ele era muito ciumento. Não queria que ela trabalhasse, nem que falasse com ninguém", conta uma amiga de Helena, a mulher de 34 anos degolada à frente dos dois filhos.

Somam-se outras notas dos dias com a desigualdade retratada em números. Duplicaram as queixas de trabalhadoras do comércio junto da Comissão para a Igualdade. Reclamações devido a diferenças em função do sexo, horários e salários. As desigualdades no acesso ao emprego agravaram-se e, ao ritmo atual, teremos de esperar até ao ano 2276 para que homens e mulheres estejam nivelados.

Há 30 anos, sonhavam-se viagens ao espaço, tecnologia inovadora, capacidade de teletransporte, um mundo de ciborgues. Tirando a perigosa utilização de dados pessoais em múltiplos setores e aplicações, a realidade está bem afastada dos caminhos imaginados pela ficção científica. E, ainda assim, não fomos dominados por máquinas, mas estamos longe de atingir o respeito integral pela vida e pela pessoa humana.

Somos, na era das redes e da conexão permanente, rápidos a disparar mas nem sempre ponderados a refletir. Gritamos muito sobre os problemas, mas tardamos a encontrar soluções. Não se vislumbra um sinal de alteração de comportamentos ou de decréscimo nos números da violência doméstica, por mais que o assunto tenha enchido páginas e estado no centro do debate público nos últimos meses. Na viragem para um novo ano, projetamos desafios da ciência, do ambiente, da política. Falta aquele que é o objetivo aparentemente mais simples, transversal a todos os outros: mais humanidade em tudo o que fazemos e idealizamos. No que isso significa de atenção a todos e ao valor absoluto de cada um.»

.

0 comments: