16.12.19

Não pintou um clima



«Podia resumir-se assim o acordo (força de expressão) alcançado na Cimeira do Clima de Madrid pelos cerca de 200 países representados: "Estamos todos muito preocupados com o futuro do planeta Terra e é importante que toda a gente no planeta Terra saiba. Mas fiquem descansados, porque na próxima cimeira, em Glasgow, é que vai ser".

Os apaixonados slogans sobre a urgência climática que uma procissão mundial de adolescentes carregou, durante meses, num andor acabaram amarrotados no chão da forma mais infantil possível quando manuseados pelos adultos que podiam realmente mudar alguma coisa. Mas, na verdade, estavam à espera de quê? De um milagre verde?

A unanimidade que não vimos na aplicação de medidas concretas para regular o mercado do carbono só foi visível no coro choroso das viúvas políticas deste fiasco global, alinhadas nos desabafos de desapontamento. Apenas 84 países acordaram implementar medidas mais musculadas a partir do próximo ano no sentido de mitigar a pegada nociva dos gases com efeito de estufa. Ou seja, menos de metade dos que lá enviaram representantes. Arredados deste compromisso escasso ficaram os Estados Unidos da América, a China, a Índia e a Rússia, responsáveis por 55% das emissões totais.

Por isso, bem podem os líderes do Mundo continuar a medir forças no campeonato das declarações pungentes e dos discursos inflamados sobre os últimos dias do planeta que continuaremos a medrar na hipocrisia das boas intenções. A velocidade e a escala do ativismo ambiental, associadas à consciencialização generalizada da população para estas questões, voltou a não encontrar paralelo na agenda política e económica daqueles que decidem efetivamente tudo no aconchego protocolar de uma sala com ar condicionado. Que os adolescentes dedicados resistam ao peso da desilusão, mas que percebam de uma vez por todas que a guerra ambiental não se ganha sem o exército dos políticos. Por mais que lhes custe ouvi-los proclamar, de forma inconsequente, que querem "aumentar a ambição" e "criar bases para o futuro". O mundo real é uma coisa, o das expectativas é outra.»

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