2.3.20

Centeno: si yo fuera Maradona



«Há uma música de Manu Chao que diz uma coisa simples: "Se eu fosse Maradona viveria como ele". O nosso ministro das Finanças prefere a metáfora de Ronaldo, mas Cristiano ainda alcançou o estrelato das músicas dos grandes artistas. Quero dizer com isto que, se eu fosse ministro das Finanças e pudesse escolher um momento para sair, seria este. Centeno teve quatro anos a seu a favor e soube merecer a sorte. E quando não conseguia os golos com o pé, usava a mão (cativações) como fez o eterno Diego Armando Maradona.



Um milagre como o dos últimos quatro anos não se repete indefinidamente. E ele não está para aturar isto - com alguma razão. O clima social mudou de tal forma que já ninguém se lembra dos tais sacrifícios feitos para chegarmos a taxas de juro negativas para Portugal nos mercados (lembrete: continuamos a devorar dívida - vale 120% do PIB - que tem de ser refrescada todos os meses).

Pela primeira vez o Governo de Costa vai ter más notícias simultâneas: abrandamento da economia, das exportações, aumento dos gastos com saúde e, sobretudo, menos turismo.

Chegou então a hora de dizermos adeus ao "défice zero". Quase ninguém terá saudades. É uma política que, definitivamente, não dá votos nem é popular (como poderia sê-lo?) A ideia de gastar menos não pega em lado nenhum. Só sabemos viver em crescimento.

O Governo está, ainda por cima, a desperdiçar uma enorme oportunidade de acelerar a libertação dos fundos comunitários já aprovados. Há um colapso da máquina do Estado nos diversos ministérios, que se acentua nesta fase final de utilização do pacote comunitário 2014/2020. Há uma verdadeira dessincronia entre a realidade e o Terreiro do Paço. Os empresários estão a ferver e ninguém os ouve.

Mário Centeno olha para tudo isto e vê o alinhamento das estrelas. Há uma balbúrdia política instalada. É verdade que as aprovações parlamentares "à la carte" são democráticas, mas nem por isso deixam de ser muitas vezes profundamente demagógicas. Não havendo quem defenda o "menos", só restam os poderosos lobbies que ganham com o crescimento de "mais despesa".

Ora então, é hora de dizer adeus. Citando o popular Clemente, sobre Centeno:

"Vais partir, naquela estrada, onde um dia chegaste a sorrir". E avancemos para um novo capítulo: a mais colossal obra do império, capaz de absorver investimento público como nenhum outro: Alcochete, o aeroporto. Uma obra que, definitivamente, nos colocará na senda "Sócrates" a todos os títulos.»

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