«É nos momentos de guerra e de crise profundas, como a que vivemos, que os grandes líderes se confrontam com a História. E que, perante o espelho dos dias, se afirmam, inspirando os seus povos a resistirem e a reerguerem-se.
Ainda vamos no princípio da batalha, feita de soldadinhos de chumbo imaginários, sem trincheiras ou inimigo visível, para usar a linguagem de guerra que tem servido de inspiração aos discursos de chefes de Estado e de Governo um pouco por toda a Europa, de Macron a Marcelo Rebelo de Sousa. Mas os sinais dados quer pela Oposição - com Rui Rio a projetar responsabilidade para o partido e para o país - quer pelo primeiro-ministro exigem de nós igual capacidade de abnegação.
António Costa, cujas declarações de firmeza perante uma Europa que mantém o discurso da moralidade financeira do início da década, da ignomínia do comportamento de arrogância do Norte contra os estouvados do Sul, uma Europa que corre o risco de colapsar pela ausência de solidariedade numa crise sistémica, que parece culpar os mortos por terem morrido, os doentes por estarem doentes, António Costa, repita-se, aprendeu com os erros do passado.
Falta-lhe apenas o discurso da crueza e, contraditoriamente, da capacidade de envolver um Serviço Nacional de Saúde, médicos, enfermeiros, técnicos e auxiliares, abatido por anos de desinvestimento. A mesma verdade que tem quando fala da "pancada", expressão dele, que vamos levar na outra frente da guerra, a da economia, e que nos entrincheira entre a morte da doença ou a morte da cura.
Mas sobretudo quando a única certeza que temos é de que não há certezas de nada, exija-se de cada um de nós que não deixemos, como em Espanha ou Itália, os nossos pais, avós, o retrato do nosso futuro, adormecerem em solidão. Seja porque não cuidamos deles o suficiente, ou porque os deixamos à sua mercê num lar onde jazem outros velhos abandonados.»
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