«Já todos conhecíamos os riscos de um regresso a uma normalidade que nunca será normal. Por isso não vale a pena fingirmos que fomos apanhados desprevenidos.
Não será possível recuperar um pouco da vida que nos foi sequestrada sem que haja contactos, sem que haja proximidade. É essa a ameaça, sempre foi essa a ameaça. O distanciamento social não é uma bolha para onde entramos ao sair de casa de manhã e de onde saímos imaculados ao final do dia. Será inevitável estarmos próximos, ainda que não demasiado.
Esta é a fase adulta da pandemia. Em que, passado o susto e o confinamento musculado, terá de imperar o bom senso, o sentido cívico, a responsabilidade individual. A maturidade. Não queiramos prolongar esta "ditadura social" para além do necessário. Ninguém está a pedir libertinagem, mas, que diabo, precisamos de espaço, de uma perspetiva, uma frincha, um horizonte que nos devolva o equilíbrio (emocional, físico) perdido. E precisamos muito, mesmo muito, de um raio de luz económico que pulverize o rasto sombrio deixado pelo desemprego, pelo desespero, pela fome.
Nenhuma cartilha sanitária sobre comportamentos coletivos pode ter a pretensão de querer ser aplicada de forma cega. Jamais teria uma eficácia transversal. A realidade é moldada por milhões de pessoas irrepetíveis. Haverá excessos. O país é muito desigual na forma como se defende e, sobretudo, na forma como capta as mensagens. E porque podemos ter de voltar à casa de partida caso tudo corra mal, é fundamental não negligenciarmos os cuidados: com as máscaras, com a higienização das mãos, enfim, com aquilo que tem sido a nossa vida em 2020.
Das autoridades de saúde esperamos linhas orientadoras claras. Das autoridades policiais uma fiscalização proporcional, não demasiado branda, não excessivamente intrusiva. Dos portugueses, só podemos esperar que voltem a estar à altura nesta fase da batalha em que começamos a sair das trincheiras para lutar com as armas que temos. As únicas armas possíveis.»
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