«Calculista, antecipa que terá pela frente não mais do que um protesto fingido dos sauditas, a quem promete uma frente comum contra o inimigo iraniano, um aplauso da Casa Branca, um assentimento compungido de Gantz, com quem formou uma coligação que prometia um caminho distinto desta iniciativa de confiscação territorial, e o entusiasmo da extrema-direita israelita.
Mesmo que nenhum dos seus antecessores tenha tido o atrevimento de proceder a esta anexação, se bem que todos tenham violado as deliberações das Nações Unidas com uma displicência que fez escola, para Netanyahu o jogo é tudo ou nada.
Desde as primeiras vitórias militares contra os palestinianos e os exércitos árabes, e com a ocupação de Jerusalém, Israel tem desprezado a solução dos dois Estados, que aliás se tem revelado um beco sem saída. Impôs assim uma divisão e descontinuidade territorial entre Gaza e a Cisjordânia, operando deste modo uma fragmentação política e impedindo a constituição de uma comunidade nacional da Palestina, e submeteu este povo a uma estratégia que alguns têm comparado, o que é razoável, à da imposição dos bantustões do apartheid.
Ao mesmo tempo, criou uma tecnologia de destruição, de vigilância e de punição coletiva (o assassinato extra-judicial, o derrube das casas das famílias dos acusados) que deixa uma marca irreparável, assente no direito irrestrito de matar e de demolir.
Mas a anexação dá um novo passo nessa escalada, retira território e empurra qualquer reivindicação nacional para a guerra. É mesmo o que Netanyahu pretende, o seu poder interno depende do militarismo, o seu poder externo depende da exibição incontestada do extermínio.
A Cisjordânia é um sexto do Alentejo mas tem mais do quádruplo da população, quase três milhões de pessoas (dos quais só 400 mil são colonos israelitas). É uma gigantesca concentração popular, de gente sofrida e humilhada. A sua terra é o que lhes resta e, por isso, só se pode esperar que esta aventura militar e política acentue a tensão e o conflito. Antes isso do que eleições, pensará o primeiro-ministro: se tivesse que dar direito de voto aos cidadãos da zona anexada (afinal, não se tornam eleitores em Israel se dele fazem parte?), toda a operação ficaria em risco. A guerra permanente é mesmo a política por outros meios.»
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1 comments:
Quando é que o sionismo permitirá uma Palestina livre e independente e deixará de sonhar com o grande Israel?
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