17.7.20

O holandês da discórdia



«A Europa que hoje e amanhã vai tentar decidir como e em que condições se entreajuda financeiramente é a mesma que não conseguiu estabelecer uma política comum para a reabertura das fronteiras, onde cada país fez o que lhe apeteceu, causando a confusão e o caos entre os viajantes.

E a mesma que respondeu em silêncio ao pedido de socorro italiano quando o número de infetados pelo coronavírus triplicava a cada 48 horas.

No final da cimeira de Bruxelas, ficaremos a saber se os líderes políticos estão à altura dos desafios que enfrentam e se ainda podemos falar do tal projeto europeu. Sendo certo que, se nem os próprios estados-membros conseguem amparar-se nas alturas mais difíceis, não se vislumbram tempos fáceis para uma Europa que anda há demasiado tempo em velocidades diferentes, disfarçando a desunião e o egoísmo que as crises internas de cada país ditaram.

Importa recordar que o primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, não é só o principal rosto da oposição à proposta do plano de recuperação, que prevê 250 mil milhões de euros de empréstimos e 500 mil milhões em ajudas diretas. É também o líder de um paraíso fiscal dentro da UE que fica com milhões de euros por ano em impostos que deveriam ser pagos noutros países, incluindo Portugal. Que já nos habituou às suas declarações polémicas sobre os países do Sul da Europa e cujo Governo sugeriu uma investigação a Espanha por não ter margem orçamental para enfrentar a pandemia. E que depois de ter reunido com o presidente francês, a chanceler alemã e os primeiros-ministros italiano, espanhol e português, disse que, se não houver acordo, não será o fim do Mundo. Todos nos lembramos do argumento do então presidente do Eurogrupo e ministro das Finanças holandês de que os europeus do Sul gastam todo o dinheiro em copos e mulheres e depois pedem ajuda. Jeroen Dijsselbloem não se vai sentar no Conselho Europeu. E isso é bom. Mas não está mal representado. E isso é mau.»

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