«Rufam os tambores da crise. O Mundo avança numa espiral de angústia e incerteza à medida que as piores previsões se vão tornando realidade, sem que possamos dizer que a pandemia foi domada.
Na maior crise das nossas vidas, o pior que podemos fazer é ceder ao medo, entrar em pânico e desaprender todas as lições do passado.
Compromissos fortes em torno de medidas que protegeram o emprego e os rendimentos evitaram a turbulência política quando saímos da anterior maior recessão das nossas vidas. E esse resultado não foi conseguido com desistência face às intransponíveis "inevitabilidades" da altura, mas sim com determinação e exigência. Também então as escolhas exigiam prudência e o país avançou porque tomou as decisões certas. Enfrentamos então a Comissão Europeia e os arautos da austeridade sabendo que o salário, a pensão, a proteção social e os serviços públicos são o nosso melhor escudo contra a crise. Acertamos - e nenhuma nova crise deve fazer-nos esquecer o que aprendemos.
A natureza da crise pode ser muito diferente, mas a sua dinâmica não se alterou. Quantos mais compromissos forem quebrados, quanto mais cortes, quanto mais rendimentos desprotegidos, maior e mais profunda será a recessão. É tentador acreditar que, no presente quadro de dificuldades, "sacrifícios" compensam - mas é mentira. E a responsabilidade da Esquerda que nunca se rendeu à doutrina do empobrecimento redentor é propor e negociar medidas fortes que deem ao país um rumo que não seja o da pobreza.
Há quem ache que, quando exigimos ao Governo que cumpra o que acordou connosco para o Orçamento de 2020, o que nos move seria a mera tentação de apresentar "boas notícias". Engana-se profundamente. É precisamente porque os próximos anos não trarão boas notícias que exigimos agora que o Governo contrate os 8400 profissionais para os quadros do SNS, tal como prometeu.
Move-nos a responsabilidade de responder por quem trabalha, por quem vive da sua pensão ou já está no desemprego. De responder pela qualidade do SNS e da Educação. Move-nos a urgência de retomar a produção e a certeza de que não é ceifando direitos e rendimentos que se colhe prosperidade. E move-nos também a decência de querer evitar uma nova injeção no Novo Banco que custaria ao país, num único golpe, mais do que as medidas exigentes que queremos incluir no Orçamento para 2021. Fácil - e talvez tentador - seria pôr em causa o salário e os rendimentos sem perguntar porque é que a crise não bate às portas do dono privado do Novo Banco.»
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