29.10.20

Prémio Camões 2020 – Coimbra não esquece o personagem

 



O meu amigo José Barata a «dar nome aos bois», no Facebook, sobre um acto a propósito de alguém cujo percurso (confesso...) eu ignorava até ontem. 

«Vitor Aguiar e Silva ganhou o Prémio Camões. Tenho a minha ideia sobre tudo isto. Não serei deselegante para quem foi meu professor e ao tempo publicava um manual que abria a reflexão teórica literária portuguesa ao que se fazia na Europa. Mas vejo as palavras da Ministra da Cultura: "A ministra da Cultura, Graça Fonseca, destaca as "qualidades intelectuais e académicas, mas também pelo perfil humanista com que marcou de um modo decisivo gerações de alunos, um pouco por todos os lugares onde ensinou, bem como leitores". Saberá a Senhora Ministra cuja 'fala' terá que ser 'também' política o trajecto percorrido por Aguiar e Silva? De delfim do regime e seguidor de Miranda Barbosa? de deputado na Assembleia Nacional ao lado de Fezas Vital, solicitando poucos dias antes de um 28 de Maio, mais repressão sobre os estudantes de Coimbra na Crise de 1969? colaborando com a PIDE, na denúncia dos estudantes da sua própria Faculdade, num processo que muitos de nós guardamos como o grau zero da ética? Ignora a Senhora Ministra como foi a saída deste professor de Coimbra para ir para Braga? Não. Não foi saneado. [Estava presente na reunião em que tomou essa decisão] Perguntem ao Dr. Loyd Braga. Ignora a Senhora Ministra o golpe de rins que leva Aguiar e Silva a juntar um depoimento seu aos deputados da 'ala liberal' na procura de branquear um percurso? Não sabe a Senhora Ministra que O Prof. Aguiar e Silva assinou um abaixo assinado já depois do vinte cinco de Abril para poucas horas depois escrever à frente do seu nome "retiro", tendo-lhe valido o nome de D. Retiro? E saberá a Senhora Ministra quando diz "marcou de um modo decisivo gerações de alunos" como eram as aulas magistrais deste Prof. insuportáveis na sua misogenia? Um prémio como o Camões não é por certo apenas uma retribuição em função da qualidade intelectual. Há que considerar um 'todo'; um 'coeso constructo humanístico' longe do tráfico de influências. Aguiar e Silva é um sósia do Julien Sorel de Stendhal; do Rastignac de Balzac. É inteligente? É. Academicamente preparado? É. Politicamente hábil? Duvido. Há neste acto uma perversidade só possível porque, de facto, estão-se a rasurar algumas memórias.»



E, em 2020, há uma ministra da Cultura que chama «humanista» a um bufo:


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4 comments:

susskind disse...

"A oposição democrática e sua ideologia totalitária": discurso proferido na sessão de esclarecimento dos eleitores e apresentação dos candidatos a deputados pela A.N.P., que teve lugar na Figueira da Foz, em 16 de Outubro de 1973 (1973); - retirado da página que lhe é dedicada na Wikipedia.

O título do discurso promete; disponibilizá-lo em linha seria um serviço público.

Joana Lopes disse...

Vou tentar encontrá-lo, mas para já não está mesmo online.

Basket-Spot disse...

O PREC já acabou, alminhas. E, que se saiba, o prémio é cultural, não é político.

Niet disse...

Vitor Aguiar e Silva foi comparsa de um grupo de empedernidos salazaristas- onde sobressaiam
Costa Pimpäo e Anibal Pinto de Castro- e que durante anos fizeram a vida negra a impolutos
democratas, tais como o Prof.de Direito Orlando de Carvalho e o seu colega de Letras, Paulo Quintela, nomeadamente. Pinto de Castro alcancou um certo protagonismo depois do 25 de Abril,
instrumentalizando alunos e inocentes admiradores que participavam nos seus ágapes e tertúlias
literárias. Recorde-se que,por outro lado, sem medir bem as consequências, E.Prado Coelho nunca justificou o seu entusiasmo e admiracäo pela obra de V.A.e Silva.Niet