26.11.20

Aprenda a aldrabar com os médicos pela verdade

 


«Já aqui escrevi sobre esse grupo que usa a megalómana mas reveladora denominação de “Médicos pela Verdade”. De como, sem serem especialistas da área, se entretêm a lançar suspeitas sobre o que diz quem realmente investiga o coravírus ou trabalha de forma mais direta com a pandemia e, com o grau de segurança possível, vai dando ao Estado a informação para que tome decisões. Como enganam milhares de pessoas nas redes sociais, lançando a confusão e a dúvida fora dos lugares onde se faz o debate científico e vão convencendo os incautos que o contraditório científico se faz em posts no Facebook. Mas, acima de tudo, de como estes médicos, psicólogos, dentistas e enfermeiros têm o atrevimento de, apesar de meterem a foice em seara alheia, se atribuírem a propriedade da “verdade”, insinuando que os especialistas da área andam a enganar os cidadãos. 

A Ordem dos Médicos, com a lentidão que é comum quando não estão em causa as lutas políticas e corporativas do seu bastonário, lá avançou com um processo disciplinar para quem, tendo deveres deontológicos, espalha desinformação nas redes. Desinformação que, no meio de uma pandemia, pode custar vidas. Mas era inevitável que a coisa acabasse por ir mais longe. E foi: uma das fundadoras dos Médicos pela Verdade foi apanhada, no Telegram, a “prescrever" uma forma de ludibriar os testes, para darem negativo. 

Maria Margarida Gomes de Oliveira é mesmo médica (tem dado a cara pelo movimento) e, perante uma mãe cujo filho de 22 anos foi chamado para fazer o teste de rastreio do SARS-CoV-2 porque tinha contactado com uma pessoa infetada, disse-lhe para ele recusar fazer o teste PCR e, “se a pressão pidesca" fosse muita e o jovem não conseguisse escapar, usar a tal receita para que o teste desse negativo. Apesar de se defender com sigilo profissional, não há defesa possível. A “informação” foi dada com várias pessoas a ler. Se aquilo era uma consulta, a violação do dever de sigilo foi da própria. A verdade é que a “receita” foi replicada por muitas pessoas. E até foi repetida a uma grávida, que pretendia garantir que medidas de segurança não fossem tomadas, afastando-a do recém nascido – o que, na realidade, não está previsto. Alguns especialistas ouvidos dizem que a “receita” da anestesiologista é pouco eficaz. Como recordou Ricardo Mexia, presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, este comportamento pode ser punido pelo artigo 283.º do Código Penal. 

Da parte criminal tratarão os tribunais, se isto lá chegar. Da parte disciplinar, tratará a Ordem, que também já abriu um processo a esta médica. Mas seria interessante que o bastonário, no intervalo do seu trabalho sindical e político, condenasse de forma clara e audível estes irresponsáveis, contribuindo para os desautorizar aos olhos dos cidadãos. Há médicos a usar o título que lhes é garantido pela Ordem para ensinar pessoas a falsear testes no meio de uma pandemia. Bem sei que é politicamente mais promissor fazer guerrilha contra quem, mal ou bem, a tenta combater. Até já há promessas de carreira autárquica. Mas, apesar de tudo, a Ordem dos Médicos ainda tem a função de regular a atividade médica. E isso faz-se por via disciplinar e tomando posições públicas. A forma descarada como estes médicos espalham desinformação mostra que não temem o poder disciplinar da Ordem ou o julgamento dos seus pares. Lá saberão porquê.» 

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4 comments:

luis reis disse...

Pois é o texto está pleno de razão, mas...
este não é aquele rapaz que não usa mascara no eixo da má língua? Aquilo não está em
" ambiente fechado", ar condicionado, aerosol,etc? E já se pode " tocar" como dar umas palmadinhas ao amigalhaço ao lado que está a 1 metro de distancia? E o que dizer da senhora que já nem usa luvas e que de vez enquanto fica toda esganiçada a lançar perdigotos aos seus colegas de painel! Ou o Bicho só pega outros que não as comenta-doiras? Esperto o bicho, não é? É só para perguntar. Telhados de vidro? Nã..

Joana Lopes disse...

Luis Reis, Mas que disparate é esse? Claro que a SIC obedece às regras da DGS, se julga que não estão à distância necessária é porque vê mal. E, como em TODOS os debates em estúdio, ninguém fala de máscara. E que tem isso a ver com este texto? Nem sei por que motivo lhe respondo...

estevesayres disse...

Não me vou aqui colocar ao lado nem de um nem de outro, até porque não tenho dados sieníticos para os colocar neste blogue, mas parece-me importante a resposta dada ao jornalista Daniel Oliveira, pessoalmente não tenho nada contra o jornalista....
Junto mais abaixo o vídeo;
(...)"Direito de Resposta ao artigo de opinião de Daniel Oliveira do Expresso"
https://www.youtube.com/watch?v=p_PXUzIGcCs

luis reis disse...

Joana, disparate? Porquê? Só coloco uma questão: o vírus propaga-se como? Sabe? Eu, pelo que ouço dizer, é mais provável em ambiente FECHADO!Ou não?Só que,como já tenho notado naquele programa como em muitos outros aliás, podiam por exemplo e opinar através de outros meios. Talvez dar o EXEMPLO.
E,já agora, quem vê mal é a senhora. Repare quantas vezes Daniel Oliveira e o seu parceiro do lado se tocam quando se interrompem?Nunca viu?
Distância? Sabe o que é uma grande angular num estúdio de TV ? Eu sei. E, a sua sobranceria fica bem evidente na ultima frase... " obrigadinho" por se ter incomodado, tá?.