Já contei isto, mas repito. Eu dava então aulas na FLUL, o meu salário não chegava a 2 contos por mês (é só fazerem as contas, menos de 10 euros), acrescido de mais 1 conto e tal por dar também teóricas – uma vergonha, mesmo para a época.
Mas para meu azar e de muitos, já devia haver «cativações» na era de Marcelo I, e, chegados ao fim de Fevereiro de 69, ainda não nos tinha sido pago um tostão do tal acréscimo precioso a que tínhamos direito. Alguém se lembrou então de pedir uma audiência ao ministro da Educação, José Hermano Saraiva, e, audiência concedida, lá fomos recebidos em grupo ao fim da tarde do dia 27. Saímos com a certeza de que o problema seria resolvido (e foi) e resolvemos acabar a tarde e a noite a festejar em casa do irmão de uma das contestatárias (btw prima direita do ministro em questão – nada de estranho neste país de primos e primas…).
A conversa durou até altas horas da noite, cheguei a casa a caí num sono à prova de bala – e de tremor de terra. Ou seja: não senti nada, não acordei, e a minha mãe, com quem ainda vivia então, viu tudo tremer e, embora apavorada, não me acordou.
E foi assim que falhei a única hipótese de ver os meus vizinhos em cuecas nas ruas de Lisboa.
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2 comments:
Recordo-me muito bem desse sismo. Tinha trabalhado até tarde e estava acordado. Bom dia.
Eu dei pelo sismo, fui para a rua - em Linda-a-Velha - e também não vi ninguém em cuecas. Vi muita gente em pijama ou camisa de noite, e alguns estavam descalços, mas continuo a desconhecer que impacto visual possa resultar de um vizinho em cuecas.
Abraço
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