31.3.21

31.03.1974 – As últimas palmas para Marcelo Caetano

 


Quinze dias antes tinha falhado o golpe das Caldas, três semanas mais tarde terminaria a ditadura. No dia 31 de Março de 1974, teve lugar um Sporting – Benfica que viria a ficar célebre e não só porque os visitantes venceram por 3-5.

Num texto publicado em 1978, MC comenta: «Quando o alto-falante anunciou que eu me achava no camarote principal, a assistência calculada em 80.000 espectadores como que movida por uma mola oculta, levantou-se a tributar-me quente e demorada ovação que a TV transmitiu a todo o Pais. Isso foi interpretado como repúdio por aventuras militares.»

E é verdade – confirmo eu que lá estava. Houve vaias, mas quem estava na bancada, como eu, nem as ouviu. À minha volta, só o grupo de amigos em que eu me integrava e, umas filas mais abaixo, Vasco Pulido Valente e Filomena Mónica, assistíamos, perplexos, ao entusiasmo generalizado.

Guardo a memória fotográfica desse momento e tive-o bem presente, no Largo do Carmo, no dia 25 de Abril. Estou certa de que muitos daqueles que nesse dia me rodeavam também tinham estado no estádio de Alvalade. Que tinham então aplaudido Caetano e que bateram palmas quando saiu do Carmo num blindado. As multidões gostam de vencedores, não de vencidos.


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1 comments:

Victor Nogueira disse...

Apesar do ondear das multidões, não se pode afirmar com absoluta segurança que quem esteve no Jamor era a maioria dos que estiveram no Largo do Carmo, na Rua António Maria Cardoso ou no 1º de Maio, em Lisboa e por esse País fora, em 1974 ou em 28 de Setembro desse mesmo ano. Aliás, uma das notas que tenho desse 25 de Abril é que a juventude se destacava entre os que saíram à rua contrariando os insistentes apelos do Posto de Comando das Forças Armadas.