«Washington, o símbolo do capitalismo, anda por estes dias a dar lições à Europa que fundou o Estado social. O plano de recuperação da economia desenhado pela administração Biden empurra a “bazuca” europeia para um canto envergonhado e o FMI, o monstro protagonista de tantos planos de austeridade por esse mundo fora, vem agora, na sequência da crise da covid, apelar a uma justiça tributária que crie impostos especiais para quem lucrou com a pandemia.
O sistema político americano é diferente do europeu e particularmente do português: no Partido Democrata que elegeu Joe Biden cabe um largo espectro de militantes do Partido Socialista, do Partido Social Democrata e até parte do CDS “fofinho”, aquele que rejeita coligações com o Chega. E é esse Partido Democrata que propõe agora uma revolução para uma reforma global da taxação das multinacionais, de forma a que as grandes empresas mundiais paguem os impostos devidos aos países onde lucram. Uma mudança que, a ser convenientemente aceite pela Europa, mudará a economia mundial em favor dos mais pobres.
“As empresas não vão conseguir esconder os seus rendimentos em paraísos fiscais como as ilhas Caimão ou as Bermudas”, disse Joe Biden ao apresentar o plano de aumento de impostos directos sobre as empresas para financiar o seu megaplano de investimento de combate à crise económica e as novas regras para impedir que a riqueza criada num sítio desapareça rumo a um paraíso fiscal.
O aumento dos impostos sobre as empresas de 21% para 28% é acompanhado da subida da taxa de imposto mínima aplicada aos lucros globais, como aqui explica Sérgio Aníbal, que tem por base os lucros declarados aos investidores com base em operações feita em todo o mundo e não apenas os lucros contabilizados nos Estados Unidos.
A América está a olhar para a situação presente como uma efectiva Grande Depressão, enquanto a Europa arrasta lentamente os pés, como é mais ou menos costume – embora se tenha aprendido alguma coisa depois do desastre da crise financeira. Não deixa de ser interessante que a revolução neokeynesiana nos chegue agora da América, que parecia ter esquecido o “New Deal” há muito. Mas nem sempre as coisas em política são lineares: John Maynard Keynes, que é actualmente o economista inspirador de muitos socialistas, não era do Partido Trabalhista britânico, mas do Partido Liberal. E também do Partido Liberal era William Beveridge, fundador da London School of Economics e autor do famoso Relatório Beveridge, o documento que esteve na base da criação do Estado social no Reino Unido (posto em prática pelo Governo trabalhista de Clement Attlee e não destruído por Churchill). A Europa social tem agora muito que aprender com a América capitalista.»
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1 comments:
Belissimo texto.A sra. Merkel perdeu um pouco o pé envolvendo-se numa polémica interna
corrosiva sobre o combate à Pandemia e deixando, por cauda disso a sua " agente em Bruxelas" ,Ursula Von der Leyen, espalhar-se no protelamento consecutivo da execucäo do Plano de Relance, que é, no aviso da maioria dos economistas um remendo menor e intrincado de normas burocráticas e controlo kafkiano que acabam por parodoxalmente näo ajudar nada nem resolver os grandes problemas economicos e sociais da Zona Euro.Ninguém sabeainda hoje como será o desenlace do falso relancamento para o futuro da Zona Euro, a marcar passo há perto de um ano.Biden em dois meses lancou os
seus dois planos de urgência e de investimento... Niet
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