3.5.21

Normalidade chocante

 


«Os sinais de otimismo multiplicam-se. Setembro é apontado como sendo o começo de uma nova era. Um tempo de normalidade sanitária e, logo, social. Esse horizonte de esperança é fundamental para que evitemos depressões e receios que germinaram com a propagação da covid-19.

Ao terceiro dia sem mortes, desde o início da pandemia, rejubilámos. Curiosamente, bem longe de nós, na Índia, a palavra "caos" peca por defeito. Apesar de vivermos num mundo globalizado, muito por mérito das companhias aéreas, a verdade é que perdemos a sensibilidade quando a morte não ocorre ao nosso redor.

Seis casos da variante indiana detetados em Portugal não são suficientes para refrear as multidões de jovens que têm invadido nos últimos dias os grandes centros urbanos. Procuram desanuviar após mais de um ano de "cercas", sanitárias, mentais e sociais.

Setembro pode constituir também o começo de um desastre económico e social. Por essa altura, muitas indústrias terão já perdido a capacidade de resistir e para os trabalhadores de pouco consolo servirá o controlo da pandemia devido a uma intensa vacinação.

Atendo o telefone e do outro lado relatam-me um drama humano. Há mesmo cerimónia em dizer a palavra certa. Ocorre o mesmo quando nos referimos a uma determinada "doença prolongada". Ele, trabalhador com guia de marcha da sua empresa, desistiu. Não encontrou motivação. Ignorando o crescente controlo da pandemia, deitou a toalha ao chão. A vida não se reduz ao vírus e não salvaremos todos se o nosso foco estiver só em calibrar vacinas para matar o "bicho". Temos de estar atentos aos sinais de uma sociedade desestabilizada por um agente maligno que atua ao nível físico, mas que também tem consequências no plano psicológico. Fechámo-nos demasiado, não só em casa mas também sobre nós mesmos. Quando isolados, tudo nos parece mais negro.»

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