«Quando tudo corre bem, o mérito é do trabalho de casa bem feito pelo Governo. Quando corre mal, a culpa é das avaliações "intempestivas" e com "falta de lógica absoluta" do Executivo de Boris Johnson, ficando por explicar a incapacidade de negociação e diálogo prévio sobre decisões que apanham o país de surpresa.
No que toca ao turismo e à oportunidade que acaba de ser perdida por Portugal, é difícil ao Governo explicar o óbvio: como quer puxar dos galões quando entramos na lista verde do Reino Unido, mas evita assumir responsabilidades sempre que acontece o inverso.
Politicamente, a decisão de manter a matriz de risco foi ajustada ao objetivo de colocar pressão sobre o controlo dos números, transmitindo uma mensagem externa de rigor e segurança. Mas imagens como as que circularam da final da Champions não enganam. Aglomerados descontrolados de adeptos sem máscara não suscitaram apenas críticas internas, sendo difícil calibrar um discurso exigente perante tantas oscilações.
Os números e factos não chegam para se fazer caminho. Desde logo porque é cada vez mais difícil reunir consensos numa altura em que tantos reclamam uma alteração dos critérios para desconfinamento. E sobretudo porque as perceções contam quase sempre mais do que a realidade em si mesma. As mensagens contraditórias sobre a Champions ou sobre os santos populares dificultam a tarefa de conseguir que os portugueses entendam os objetivos e se mantenham unidos em torno deles.
Sete países europeus têm já em funcionamento o certificado digital covid. Garantido que está o princípio de não discriminação de não vacinados, com as regras clarificadas e concertadas ao nível da União Europeia, é preciso assegurar com urgência a concretização deste processo em Portugal. Essa será a única forma de não ficar dependente de negociações parcelares, ou de mercados restritos, normalizando gradualmente o turismo. Dependemos muito dos turistas britânicos, claro. Mas não podemos apostar todas as fichas num tabuleiro. Muito menos quando não temos capacidade negocial para provar que somos capazes de manter as portas abertas.»
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