«A pergunta não é nova, mas volta a colocar-se a uma União Europeia que não tem sabido lidar com as aleivosias do primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán.
Um homem que não nutre particular devoção pelos valores humanistas do Velho Continente, que é desprezado por grande parte dos seus congéneres, mas que, ainda assim, tem conseguido sobreviver a tudo. Em pouco mais de dez anos, o político que clama ser fora do sistema mesmo estando dentro dele, endureceu as regras anti-imigração, atacou a independência do sistema judicial, tomou conta de posições estratégicas nos média, aplicou uma política antissemita e islamofóbica e, agora, criou uma lei que proíbe que se fale a menores de 18 anos sobre a homossexualidade nas escolas e na Imprensa.
Os relatos do mais recente Conselho Europeu traduzem de forma cabal o tamanho do elefante na sala. O líder do Governo holandês, Mark Rutte, sugeriu ao congénere húngaro que abandonasse a União Europeia; já o chefe do Executivo luxemburguês, Xavier Bettel, homossexual assumido, deu o seu testemunho pungente: "Eu não me tornei gay. Eu sou gay, não é uma escolha", terá dito a Orbán, de acordo com o site "Politico". "A minha mãe odeia que eu seja gay. Eu vivo com isso. E agora você põe isso numa lei. Eu respeito-o, mas isto é uma linha vermelha. Trata-se de direitos básicos, do direito a ser diferente", complementou Bettel.
Orbán não se comove com movimentos contestatários, servindo-se deles, em grande medida, para granjear popularidade interna. Aliás, as eleições que vai ter de enfrentar no próximo ano não são de todo alheias a esta estratégia de desalinhado. A pressão diplomática para suster os ímpetos antidemocráticos do líder húngaro é útil, mas não chega. A Europa tem de atuar onde dói verdadeiramente aos regimes autoritários: cortando fundos, cerceando movimentos e influência. Já há mecanismos que o permitem, embora a sua aplicação, como em tudo em Bruxelas, seja de uma elevada complexidade jurídica. Depois, cortar as pernas ao regime de Orbán tem outra virtude: sustém as motivações de potenciais imitadores, para quem uma Europa incomodada, envergonhada e irritada é sinónimo de uma Europa inconsequente.»
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