9.8.21

O copo meio vazio dos Jogos Olímpicos



 

«Acabaram os “Jogos mais estranhos de sempre”, como titulava a notícia do enviado especial do PÚBLICO a Tóquio, e com as imagens emocionantes de tantas finais ainda na memória chegou a hora do balanço. Os Jogos deixaram de ser a manifestação do poder global de um país ou de um bloco como nos tempos da Guerra Fria, mas é impossível não encontrar na galeria das medalhas acumuladas razões de sucesso ou insucesso nacional. O desporto transforma-se assim num sucedâneo da geopolítica mundial e, ainda que seja deplorável que a glória ou o fracasso se façam tantas vezes à custa do esforço desumano dos atletas, é bem melhor que os Estados Unidos vençam a China nos pavilhões, nas pistas ou nas piscinas do que nos mares cada vez mais instáveis da Ásia.

É neste contexto que se impõe a discussão dos resultados de Portugal. É certo que, face às expectativas, uma medalha de ouro, uma de prata e duas de bronze não é caso para depressões – foram até os melhores desempenhos de sempre e não tem valor algum argumentar que o ouro português se deve a um atleta formado em Cuba. Mas ver nestas medalhas uma razão de orgulho nacional é apenas uma prova da tolerância à mediocridade com que tantas vezes Portugal se engana e se resigna. Ficar no 56.º lugar do ranking mundial, muito atrás dos sucessos de países europeus com os quais comparamos do ponto de vista demográfico, social e económico, não é caso para celebração. Se medirmos o PIB per capita do país no mundo e o ligarmos às quatro medalhas olímpicas, temos razões para perceber que o país é um anão no desporto mundial.

Há anos que este reconhecimento se faz e há anos que se repetem mil e uma receitas para melhorar a competitividade do desporto em Portugal. Vamos por isso regressar às causas do falhanço do desporto escolar, às debilidades dos clubes, à ausência de apoios públicos e privados, à carência de infra-estruturas, e por aí a fora. Mas vamos também depressa esquecer os resultados e deixar o problema cair no esquecimento até que os próximos resultados medíocres nos sobressaltem. Um modelo de desporto voltado para o alto rendimento exige planeamento, perseverança, recursos e organização, qualidades que o país manifestamente não tem.

Resta-nos prestar todas as vénias aos que, neste contexto, conseguem ainda assim sobressair, competir e vencer. Mas dizer que os “objectivos foram plenamente atingidos” é dizer que não temos objectivos nenhuns. No desporto olímpico, como na economia, Portugal está na cauda da Europa, e o primeiro passo para sair desse lugar é recusá-lo como bom.»

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