21.8.21

Talibãs exploraram tensões dos EUA na região



 

«Os talibãs ultrapassaram as forças da NATO lideradas pelos Estados Unidos em todos os aspetos da estratégia militar e política. Mas parte substancial da forma convicta e determinada como avançaram sobre Cabul deve-se ao forte investimento que fizeram na vertente diplomática.

Os talibãs exploraram amplamente as tensões subjacentes dos Estados Unidos com a China, a Rússia, o Irão e o Paquistão e ganharam virtualmente legitimidade internacional. Em concreto, tiraram partido das linhas de rutura nas relações desconfortáveis que a China mantém há anos com os Estados Unidos e apresentaram-se com sucesso como um parceiro fiável para Pequim.

Porta aberta à Rota da Seda

Os talibãs garantiram a Pequim que não permitiriam que grupos militantes antichineses procurassem abrigo no Afeganistão, forneceriam segurança total às suas missões mineiras no país e permitiriam que os seus projetos rodoviários relacionados com a iniciativa global chinesa “Um Cinturão, Uma Rota” passassem por territórios afegãos para os Estados da Ásia Central, algo que vai totalmente contra a posição americana que considera este projeto como uma ameaça à sua influência global.

Também conhecida como Nova Rota da Seda, a iniciativa chinesa começa na China Ocidental e atravessa o Paquistão em direção a toda a Ásia, África e Europa através de rotas marítimas e terrestres.

Rússia e Irão sem dúvidas

Do mesmo modo, os talibãs tiraram vantagens da abordagem dura do Irão relativamente aos EUA. Tanto Irão e Rússia acreditam que secretamente os norte-americanos apoiam o grupo terrorista Estado Islâmico (Daesh) para cercar os dois países. Por outro lado, o facto de os talibãs se oporem ideologicamente ao Daesh contribuiu para que Teerão e Moscovo convergissem no interesse em apoiar os talibãs.
Rússia e China deram indicações de estar disponíveis para reconhecer o Governo dos talibãs.
Em relação ao Paquistão, os talibãs deram garantias de que iriam “retirar” a presença indiana do Afeganistão. Islamabade acusa Nova Deli de usar o território afegão para patrocinar o terrorismo através da sua fronteira porosa com o Afeganistão de 2700 quilómetros de comprimento.
Presentemente, Rússia e China deram indicações de estar disponíveis para conceder reconhecimento diplomático ao Governo dos talibãs. É provável que Islamabade e Teerão sigam pelo mesmo caminho. Se isso acontecer, que é o cenário mais provável, seria então difícil para o resto do mundo não reconhecer os talibãs.
O mundo assiste agora perplexo ao regresso dos talibãs ao poder, 20 anos depois de terem sido expulsos à força de maciços bombardeamentos levados a cabo pelas forças da NATO nas principais cidades afegãs.
Reputação histórica

Desde o primeiro dia após o 11 de setembro, as forças internacionais subestimaram grandemente a força e a resiliência dos talibãs, a sua perspicácia política e, mais importante, a reputação historicamente provada dos afegãos e a sua determinação em expulsar forças estrangeiras a todo o custo.

Os talibãs foram injustamente retratados como se apenas falassem pelos canos das armas e usassem as mulheres como escravas. Os media ocidentais noticiaram pouco a quantidade de dinheiro gasto pelos EUA que acabou nas mãos de políticos, funcionários e milhares de prestadores de serviços norte-americanos corruptos. O último exemplo disso foi a fuga do Presidente Ashraf Ghani, com malas de dinheiro, assim que os talibãs entraram em Cabul.»

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1 comments:

" R y k @ r d o " disse...

Onde é que os talibâs arranjaram armas e munições? Onde as compraram? Quem as vendeu? Como entraram no Afeganistão sem os americanos darem por isso?

E agora? Como é possível o mundo estar a ver as atrocidades contra o povo em particular contra mulheres e crianças e tudo bem?
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Feliz fim-de-semana - cumprimentos
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Pensamentos e Devaneios Poéticos
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