24.9.21

Mente pouco brilhante



 

«Passamos a vida a correr e a dizer que o tempo voa, coisa que faz muito sentido quando abordamos a pandemia, cujas restrições, de tão castradoras, parecem enraizadas há séculos na vida de todos.

Mesmo assim, frases há que ficam gravadas, por mais dias que contemos, como a de Graça Freitas: "Não temos que estar alarmados", dizia a diretora-geral da Saúde, em janeiro de 2020. Ontem, o primeiro-ministro anunciou o arranque da etapa final do processo de reabertura. Enfim, chegou a hora de voltarmos a encarar o futuro com otimismo, mesmo a tempo das umas eleições locais em que se discutiu quase tudo menos política de proximidade, porque as batalhas futuras, no Parlamento e na liderança dos partidos, parecem sobrepor-se a tudo.

Se as considerações de Graça Freitas podem ser entendidas, à luz do desconhecimento, numa fase precoce da evolução da doença, mais de um ano e meio depois, as palavras de Eurico Brilhante Dias são inexplicáveis e não têm perdão, quando garante que "nós ganhámos com a covid", por causa do "êxito" que tivemos no combate à doença. Se é assim, não precisamos de um secretário de Estado da Internacionalização. Basta esperar que nova peste nos leve, outra vez, mais de 17 mil almas para proclamarmos de um polo ao outro que somos os melhores do Mundo, um país moderno, servido por um sistema de saúde tão eficaz, que na fase mais aguda da pandemia os profissionais do setor nem precisavam de dormir.

Nunca testei positivo à covid-19, nenhum familiar meu teve problemas graves com a doença, mantive o posto de trabalho. Mesmo assim, não me incluo no "nós" do secretário de Estado. Acredito até que poucos consideram encaixar-se naquele pronome. Subsiste, portanto, uma dúvida: o governante referia-se a quem? Aos portugueses, enquanto povo, pelo que vejo, leio e ouço, não me parece. Não os representa.»

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