«Neste ano e meio de pandemia, Portugal foi exemplo do que correu mal e do que correu bem. O primeiro coordenador do plano nacional, Francisco Ramos, demitiu-se devido a irregularidades no processo de selecção de profissionais de saúde no Hospital da Cruz Vermelha, do qual era dirigente.
Antes disso, num momento crucial para conter o vírus e conferir segurança à população, demasiados casos de vacinação irregulares mancharam a credibilidade de um plano que deveria estar acima de qualquer dúvida. Acrescente-se a este cenário a cacofonia das conferências de imprensa diárias com a evolução da covid-19 no país, cujas mensagens nem eram sempre claras e compreensíveis, e as dúvidas permanentes sobre a eficácia ou o efeito das vacinas administradas.
A entrada em cena do vice-almirante Gouveia e Melo introduziu um discurso mais sensato e pragmático, mais focado na necessidade da inoculação. Pôs termo às arbitrariedades, aos fura-filas e compadrios, alargou o processo a nível nacional de forma homogénea e coerente e fez de Portugal o segundo país a nível mundial com a taxa mais elevada de vacinação, segundo os dados do Our World in Data.
Não é pouco. O recurso às Forças Armadas para gerir a logística deste plano teve ganhos óbvios; acabou com a subjectividade e com a facilidade da cunha administrativa e acelerou o processo, nomeadamente entre os jovens com mais de 12 anos, em época de férias, acautelando eventuais surtos no início do ano lectivo.
O fim da task force que Gouveia e Melo coordenou de forma empenhada e destemida, a ponto de se tornar no alvo privilegiado do insulto negacionista, é uma excelente notícia. Sem o ritmo imprimido, com quase 85% da população já vacinada com duas doses, o plano de desconfinamento não teria sido possível e o regresso à normalidade teria sido adiado.
O fim da task force é o fim de uma fase que não deixa saudades. Agora que falta vacinar apenas 345 mil das pessoas elegíveis, Gouveia e Melo tem razão para proclamar que a “missão está terminada”. A forma como organizou e planeou a operação deixa uma herança logística, centros de vacinação geridos por uma equipa de militares mais reduzida, para administrar uma eventual terceira dose e a vacina da gripe. É o melhor exemplo dos últimos anos do papel e da importância que os militares podem ter na gestão de crises no país. Foi preciso um submarinista para evitar que o processo de vacinação contra a covid-19 não tivesse afundado logo no início.»
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