«Os combustíveis, mesmo caros, não são um bem do qual os portugueses possam prescindir e o Governo sabe disso. Como sabe que a subida a que temos assistido vai refletir-se nos transportes públicos, na alimentação, no vestuário, etc. Este ano, o preço do gasóleo já subiu 38 vezes. A gasolina 30. E já nos avisaram que os aumentos não ficarão por aqui.
A culpa, dizem-nos os governantes, é da margem das gasolineiras. E também nossa. Nossa porque, dizem-nos também, poluímos muito. Andamos muito de carro. Passeamos muito. Levamos muito os filhos à escola e vamos de automóvel ao supermercado. Somos, portanto, aos olhos de quem gere o país, uns irresponsáveis. Temos de pagar por isso. E esse castigo está documentado na proposta de Orçamento do Estado, onde o Governo deixa claro que não alivia a carga fiscal para penalizar os combustíveis poluentes.
Percebe-se que seria um erro político favorecer os combustíveis fósseis. Mas também parece claro que estamos a pagar mais pelos combustíveis devido aos impostos.
O Governo tem um problema para resolver, até porque não estamos no Luxemburgo, onde, desde fevereiro do ano passado, os transportes são totalmente gratuitos e os bilhetes dos autocarros e dos comboios para a Alemanha, Bélgica e França ficaram mais baratos.
Também não temos a carteira dos noruegueses, que já têm metade da frota automóvel elétrica. Vivemos num país onde ter carro não é uma opção, mas uma obrigatoriedade. Dizer o contrário não é só ser politicamente correto. É desconhecer a realidade. De resto, basta recuar um pouco ao período da campanha eleitoral para as eleições autárquicas para perceber que a grande preocupação dos autarcas não foi reduzir a carga automóvel, mas sim resolver os problemas relacionados com o trânsito.
Acenar com a bandeira do ambiente para justificar o preço dos combustíveis não funciona, mesmo que a bandeira nos tape os olhos.»
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