22.11.21

O hara-kiri de André Ventura

 


«André Ventura estatelou-se ao comprido esta semana e pregou mais um prego no caixão do partido que inventou, talvez um prego definitivo nas suas aspirações para as legislativas de 30 de Janeiro.

A “decisão” de deitar abaixo o Governo Regional dos Açores, uma coligação PSD/CDS/PPM dependente de um deputado do Chega, fez mais pelo voto útil nos partidos tradicionais de direita – PSD e CDS – e na Iniciativa Liberal do que muitos outros discursos de campanha. Para sorte de Ventura e do Chega, o deputado que tem assento na assembleia da ilha do Faial, disse que quem mandava era ele. E Ventura – que se calhar percebeu que o deputado açoriano era mais inteligente do que o presidente do partido – meteu a viola no saco, deu uma volta de 180 graus, e concluiu que, afinal, o Governo Regional dos Açores, de direita, tal como o deputado regional afirmou, merecia “mais uma oportunidade”. Esta semana o Orçamento dos Açores certamente vai ser aprovado na Assembleia Legislativa Regional e o Chega fica, para já, sem a mácula de ter deitado abaixo um governo liderado pelo PSD – e de abrir a porta a um eventual regresso do PS ao Governo. Mas o exemplo fica lá: na verdade, se o deputado regional José Pacheco tivesse cedido ao primeiro impulso de Ventura, o Governo dos Açores caía.

Com as legislativas marcadas para daqui a dois meses, é muito difícil que este episódio revelador de André Ventura não vá ser recordado pelos eleitores de direita no momento em que decidirem optar por um dos partidos da sua área política.

Tudo começa porque Ventura se sentiu muito incomodado com Rui Rio por este ter sido mais duro com o Chega do que até agora tinha sido e defender o apoio a um Governo do PS, coisa que Rio sempre defendeu. Paulo Rangel também riscou o Chega das suas contas. Da parte de Rio é uma mudança de quem até agora admitia dialogar com o Chega “se este se moderasse”. E, de facto, aliou-se nos Açores, numa polémica “aliança” com acordo escrito que suscitou a oposição de vários militantes de direita, como Francisco Mendes da Silva escreveu.

Depois da ameaça radical na quarta-feira – “No que depender da direcção nacional e do presidente, que sou eu, esse apoio morreu hoje” – André Ventura acabou a concordar com o único deputado do partido nos Açores de que havia mais oportunidades a dar ao Governo Bolieiro. Sem a mínima vergonha na cara, Ventura desdisse o que apenas dois dias antes tinha defendido e concordou que “o cenário não está fechado e vamos continuar a trabalhar” e, com a lata suplementar que se lhe reconhece, afirmou também que existia “articulação plena” entre o líder do Chega e o deputado José Pacheco. Uma trampolinice que vai custar caro ao Chega nas legislativas, ajudará ao voto útil nos partidos tradicionais da direita e sustenta a tese de alguns dirigentes de direita de que a subida do Chega só interessa a António Costa. Ideologicamente não; pragmaticamente, sim.»

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