«Mesmo tratando-se de um momento com tanto de marcante como de escusado, aquele erguer de mão de António Costa com um Orçamento de Estado defunto na mão, no final do debate com Rui Rio, merece reflexão.
O Governo caiu na sequência do chumbo deste documento, num divórcio com os parceiros da Esquerda que parece estar para durar. De outra forma, o líder do PS não faria daquele Orçamento bandeira de campanha. Se o recusaram uma vez, por que razão Bloco de Esquerda e CDU haveriam de o deixar passar dentro de meses?
Atendendo a estes sinais e à forma como decorreram os debates com as peças da finada "geringonça", António Costa parece apostar tudo numa maioria absoluta que, segundo as sondagens, será pouco provável. Mas os socialistas acreditam, o que é legítimo e compreensível. Surpreendente mesmo só a estratégia que estão a utilizar para a conseguirem, procurando entrar a fundo no eleitorado à esquerda do PS. Ao não ceder um milímetro às correções propostas por comunistas e bloquistas, tudo o que Costa conseguiu foi "provocar" eleições, que, numa espécie de teoria da responsabilização, resultam em perdas para estes dois partidos e ganhos para o PS.
Depois de dobrar com a vela aberta as tormentas que poderiam ser os debates televisivos, agora, com a campanha na estrada, Costa pensará apenas em manter o ritmo, sendo bem possível que continue a tentar minar o caminho às forças que, teoricamente, o podem ajudar a formar Governo. Aliás, até o PAN já pode considerar-se vítima, quando viu o ainda primeiro-ministro aconselhar quem não vota no PS a optar pelo bloco liderado por Inês Sousa Real. A melhor maneira de desmobilizar o eleitorado de um partido pequeno é fazer acreditar que votar noutro maior vai dar ao mesmo. E Costa, na sua demanda de sugar a Esquerda, parece estar a fazer isso bem.»
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