«Um debate com uma duração de 25 minutos é um microdebate. Mas, mesmo antes do “grande debate” da saison – vai ser no dia 13, Rui Rio versus António Costa –, já se pode fazer um microbalanço.
António Costa está centrado em duas únicas ideias: conseguir a maioria absoluta, humilhando os parceiros “irresponsáveis” que o levaram ao poder em 2015, e provar que é um primeiro-ministro muito mais confiável do que Rui Rio. Foi a “falar” para Rio que debateu com Rui Tavares (o aliado mais provável de todos, mas que, com sorte, só elege um deputado), foi sem qualquer “rebuço” que tentou destruir um fragilizado Jerónimo de Sousa, mesmo recorrendo a uma falsidade: a de que não pode fazer o aumento das pensões com o regime de duodécimos. Na verdade, como já tinha explicado antes, poder pode, mas acha que não deve. Foi a olhar para André Ventura como possível aliado de Rui Rio que repetiu o mantra “comigo o senhor não passa” duas ou três vezes, e afirmou não estar na política para o “mitigar” – aludindo à explicação de Rio segundo a qual Ventura defende a prisão perpétua em versão mitigada. Por azar, levou a questão da corrupção para o debate com Ventura – o facto de o líder do Chega ter faltado à votação do pacote anticorrupção – e foi confrontado com o facto de José Sócrates ter sido primeiro-ministro.
Se Costa é o símbolo da confiança e auto-suficiência (vamos ver até que ponto os portugueses não confundirão isso com arrogância, principalmente quando o que se pede aos eleitores é uma maioria absoluta), Rui Rio anda muitas vezes aos papéis. Andou aos papéis com André Ventura, deixando a agenda do Chega dominar o debate, e estava muito pouco preparado no confronto com Catarina Martins, nomeadamente nas questões do SNS e sustentabilidade da Segurança Social. Com Francisco Rodrigues dos Santos, conseguiu a sua melhor performance nestes debates, tentando mostrar como o CDS é o aliado preferencial, mas esforçando-se por voltar ao “centro” que os seus ziguezagues com Ventura arriscam a ver perdido. Outra das suas qualidades – que poderá ou não vir a ter efeitos eleitorais – é ter aquilo a que se chama “autenticidade” e ter uma imagem de ser pouco “calculista”.
Jerónimo de Sousa não esperava a agressividade do outrora parceiro António Costa no debate de terça-feira. Viu-se que teve dificuldade em reagir à artilharia que o primeiro-ministro trouxe para o frente-a-frente – talvez não esperasse que, depois de em 2015, quando Costa perdeu as eleições, ter dito que “o PS só não formava governo se não quisesse” e de tantos anos de colaboração amigável, a coisa acabasse em KO técnico. Mas Costa é implacável e Jerónimo perdeu o poder de reacção. Quando na entrevista ao PÚBLICO/Renascença desta semana não se quis comprometer com a continuação no cargo de secretário-geral do PCP até ao próximo Congresso, deu o primeiro sinal de que talvez esta seja a sua última campanha como líder dos comunistas. O facto de o PCP se ter recusado a participar nos debates em canais por cabo – que acabarão por ficar disponíveis na RTP – é um sinal de evidente fraqueza. A sondagem do PÚBLICO dá o PCP, apesar de tudo, com 6%.
Catarina Martins está a dar tudo por tudo para fugir do anátema de que o Bloco de Esquerda é “um partido irresponsável” por ter chumbado o Orçamento, e evitar a penalização eleitoral que pode acontecer com a transferência de votos do seu partido para o PS, cenário em que joga Costa. Nestes debates, tem-se esforçado por manter uma calma olímpica, evitar a agressividade (que afasta alguns eleitores mais moderados) e mostrar que é, muito provavelmente, a mais bem preparada dos líderes políticos que têm aparecido nestes debates.
(Continua na próxima semana)»
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