15.2.22

O teste do algodão

 


«Há um momento fundamental para perceber os caminhos que António Costa pretende percorrer. E outro a partir do qual se fará a verdadeira avaliação do percurso.

O primeiro será já nos próximos dias, quando se perceber qual o elenco ministeriável e qual a orgânica do Governo. No fundo, quem são as mulheres e os homens que vai buscar para executar o seu projeto para o país. Haverá mais Portugal ou mais PS? Qual a primeira baixa da maioria absoluta, o partido ou a sociedade civil?

O Orçamento a propor representa o segundo passo do mesmo momento. Porque os orçamentos são bem mais do que arrumos da contabilidade pública. Pelo contrário, representam opções e objetivos de governação. E agora sem o espartilho das exigências dos partidos à esquerda do PS, o Governo pode traçar o esboço que efetivamente terá para os dias que se aproximam.

Os orçamentos serão o mapa que nos mostra o caminho. Os últimos foram sobretudo um espelho do contexto político, e do arranjo de apoios parlamentares. Para este já não há esse quadro de necessidade. Será mesmo um OE de António Costa. O primeiro da maioria.

Mas o tempo agora é forçosamente diferente dos últimos seis anos, durante os quais se assistiu, primeiro, a um crescimento económico e ao regresso do investimento externo, ajudado pelo financiamento da dívida portuguesa protegido pelo Banco Central Europeu, o que permitiu redistribuir os ganhos e acabar paulatinamente com os cortes nos impostos pelo tempo da troika, enquanto se anunciavam contas certas. Depois, resistindo a dois anos de pandemia que exigiram alguma racionalidade no meio dos ziguezagues e injeção de dinheiro para evitar uma catástrofe social e económica. Foi também por isso que António Costa ganhou. E que ganhou com maioria absoluta.

O segundo momento pode vir tarde para arrepiar caminho. Ou não. O que Portugal vai receber nos próximos dois anos da União Europeia, mais os fundos europeus do 2030, representa de facto uma oportunidade de transformação única. E essa avaliação só se fará no segundo ciclo da legislatura, comparando o nosso crescimento com o dos outros países da UE que também terão pacotes financeiros extraordinários.

O sucesso mede-se comparando. Comparando desenvolvimento com desenvolvimento. E esse, sim, é o teste do algodão.»

.

0 comments: