1.2.22

Pedras no passeio de Costa

 


«O crescimento dos socialistas nas legislativas está em linha com a queda de CDU e Bloco de Esquerda. António Costa recolheu mais 380 mil votos em relação a 2019, enquanto os parceiros que lhe viabilizaram orçamentos durante os quatro anos de geringonça perderam 350 mil.

Como aqui escrevi há um par de semanas, o secretário-geral do Partido Socialista apostou forte, e conseguiu, "sugar" os votos à Esquerda, ainda que na última semana de campanha tenha virado ao contrário as páginas do discurso, admitindo negociar com todos, face à ameaça de uma subida do PSD nas intenções de voto. O receio levou-o, portanto, a reescrever o guião, mas a estratégia parecia alinhada desde a apresentação do Orçamento, cujo chumbo conduziu à queda do Governo: aspirar toda a Esquerda para o universo de votos do PS e governar respaldado por uma bancada mais rosa e maioritária. Durante o discurso de consagração, o vencedor manteve o protocolo da humildade, ao dizer que "uma maioria absoluta não é poder absoluto", mas essa indicação contradiz o candidato a primeiro-ministro que, há duas semanas durante um debate, mostrou o Orçamento chumbado como um trunfo para o arranque da legislatura. Se a intransigência em não mudar uma linha se mantiver, talvez a governação de Costa não seja o passeio na praia que muitos adivinham, uma vez que a partir de agora PCP e Bloco de Esquerda estarão claramente do outro lado da barricada e as máquinas de rua não morreram, estiveram apenas adormecidas. Mantendo-se Costa inflexível, por exemplo, em relação à revisão das leis laborais escritas na pele dos portugueses no período da troika, é bem possível que a paz social, antes respaldada no acordo com comunistas e bloquistas, se transforme rapidamente em protestos e greves, legítimos, para se fazer aquilo que foi prometido aos parceiros da geringonça e ainda não foi feito.»

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