9.2.22

Terrorismo

 


«Hospitais incapazes de convocar doentes para consultas ou exames. Rede multibanco em baixa e operações bancárias por fazer, por causa da incapacidade de enviar ou receber um SMS. Piquetes da Polícia Judiciária incapazes de atender as queixas dos cidadãos vítimas de crimes. Dados móveis disfuncionais ou desligados. Chamadas de telemóvel impossíveis. Televisões sem sinal de vida. Bombeiros desligados da comunidade que deles depende.

Serviços de socorro a funcionar apenas para situações de emergência, graças à rede alternativa do Estado, o famigerado SIRESP. Foi assim o dia de ontem para milhões de portugueses e milhares de empresas e instituições, na sequência do ataque à Vodafone, um dos três grandes operadores de telecomunicações em Portugal.

Os responsáveis da Vodafone não pouparam na qualificação. Foi um "ataque terrorista". Foi uma acertada escolha de palavras. Há muito que a pirataria informática deixou de poder ser associada ao romantismo de ações espetaculares de engenhosos Davides contra os Golias corporativos e capitalistas. Não se confunda a denúncia dos segredos sujos e dos crimes dos estados ou corporações com a tentativa de destruir uma sociedade. Estes ataques a empresas (como a Vodafone), instituições políticas (como o nosso Parlamento), ou organizações que garantem o bom funcionamento da democracia (como a comunicação social) são na verdade um ataque ao nosso modo de vida.

É importante frisar que este ataque só não causou vítimas mortais (basta pensar na emergência médica) porque havia sistemas de comunicação redundantes de emergência. Mas, e se o ataque tivesse sido dirigido, simultaneamente, à rede da Vodafone e à rede do SIRESP? E se o INEM tivesse ficado incapacitado de receber as centenas de pedidos de socorro que lhe chegam todos os dias? Terrorismo, sim. A dúvida é apenas se foi terrorismo mais ou menos aleatório ou terrorismo de Estado. E sendo terrorismo, então é preciso que os estados, começando pelos democráticos, como o nosso, se organizem. E que tranquilizem os seus cidadãos. Com ações concretas, não apenas com palavras. Um exemplo apenas: vêm aí 2460 milhões de euros da "bazuca" só para a transição digital. Qual é a fatia deste gigantesco bolo que vamos destinar a melhorar a nossa segurança digital coletiva?»

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