«Há uma razão para a comunidade imigrante ucraniana ser tão importante em Portugal. A maioria destas pessoas chegou durante a década de 1990, enfrentou a clandestinidade e a xenofobia e trabalhou muito abaixo das qualificações que trazia. Chegaram em busca de melhores condições de vida, fugindo de uma economia frágil, marcada pela corrupção endémica e pela formação de oligarquias locais, tal como denunciado por organizações como a Transparência Internacional ou Repórteres sem Fronteiras.
Para além do êxodo massivo da sua população - a Ucrânia é o oitavo país do Mundo com mais emigrantes - a crise, a pandemia e a guerra forçaram a Ucrânia a recorrer a sucessivos empréstimos do FMI e da Comissão Europeia. Como sabemos por cá, estas "ajudas" saem caras: a privatização da energia e da banca pública, a introdução de limites nominais à despesa do Estado (mesmo durante a pandemia) são exemplos do tratamento imposto ao povo ucraniano até às vésperas da invasão russa.
A resistência à agressão e a necessidade de reconstrução impõem agora uma pressão insuportável sobre o Orçamento do país mais pobre da Europa (lugar disputado com a Moldávia). Com uma economia capturada por oligarcas regionais - nas indústrias extrativa e financeira -, não se vislumbra como a Ucrânia encontrará os recursos para lançar projetos infraestruturais e desenvolver-se como democracia. Os juros que a Ucrânia paga por uma dívida externa que ascende a 125 mil milhões de euros correspondem a 12% do orçamento anual do país e servem de justificação para o adiamento da reconstrução dos serviços públicos essenciais, bloqueada pelas regras de austeridade impostas pelo FMI e pela Comissão Europeia.
Por todas estas razões, levanta-se na Ucrânia, entre quem resiste à invasão, a exigência do cancelamento da dívida externa do país, em particular a parcela pertencente ao FMI. Esta medida não trará a paz, mas é essencial para oferecer a este povo já tão castigado um horizonte de democracia e direitos sociais.»
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