10.4.22

Putin na segunda volta, em França



 

«A Rússia tentou influenciar o resultado das últimas eleições presidenciais francesas a favor da candidata de extrema-direita Marine Le Pen e não deixará de o fazer nas actuais eleições. Seja Marine Le Pen, Éric Zemmour ou até Jean-Luc Mélenchon, o adversário de Emmanuel Macron na segunda volta, a 24 de Abril, será sempre do agrado de Vladimir Putin.

A primeira pode ter eliminado milhares de folhetos de campanha nos quais exibia com garbo uma fotografia com Vladimir Putin e condenado mais recentemente a invasão da Ucrânia. A candidata da extrema-direita, para quem a Rússia é uma democracia, prefere falar das condições de vida das classes sociais mais desfavorecidas, a pronunciar-se sobre o financiamento de proximidade do “imperador do Kremlin”. Esta estratégia cínica faz dela a mais provável adversária de Emmanuel Macron na segunda volta das presidenciais.

Le Pen deixou para Éric Zemmour o discurso xenófobo, islamofóbico e anti-semita. Zemmour, um judeu revisionista que procura reabilitar o regime de Vichy, que deportou milhares de judeus, encara a invasão russa como legítima, a pretexto da expansão da NATO. Enquanto a primeira opta por falar de economia e finanças, de como baixar combustíveis e impostos, o segundo prefere a teoria da “grande substituição”, de como os franceses estão em risco no seu próprio país e da “reconquista do maior país do mundo”, numa alusão à luta dos francos contra os mouros, na Idade Média. A extrema-direita, junta, já representa a maioria do eleitorado e estará, certamente, representada nesta segunda volta.

Jean-Luc Mélenchon, por seu lado, classifica o regime russo como um parceiro de confiança e os EUA como o seu contrário. A simpatia por Putin, em todos eles, convive com um antiamericanismo básico.

Valérie Pécresse, d’Os Republicanos, e Anne Hidalgo, do PS, assim como os seus partidos, são irrelevantes no desfecho destas eleições e estão prestes a transformar-se num anacronismo. (Os socialistas podem não ir além dos 2% nas intenções de voto e estão em risco de desaparecer.)

À medida que se estreita a diferença percentual entre Macron e a candidata da União Nacional, que é praticamente de empate técnico, Le Pen, Zemmour ou Melánchon na Presidência francesa representam o que o Libération titulava por estes dias: “Um perigo maior do que nunca.”

Em caso de vitória, nada garante que os três abandonem a intenção de retirar a França da NATO ou de minarem a União Europeia a partir de dentro. Neste cenário, malheureusement, Macron é um mal menor.»

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