«Ao ouvirmos determinadas coisas da boca de alguns agentes políticos ficamos com aquela sensação de torpor típica dos domingos à tarde, em que comemos um pouco mais e acabamos por ficar menos reativos. A semana que passou foi pródiga em momentos anestesiantes e inconsequentes. Começámos por ouvir a ministra da Saúde (há quatro anos no cargo) a anunciar, com pompa, uma comissão para acompanhar a resposta das urgências de ginecologia e obstetrícia, a abertura a acordos com os setores privado e social (depois da asneirada com o fim das PPP hospitalares) e a revisão da remuneração médica em serviço de urgência. Marta Temido dirigiu-se ao país com solenidade, como se tudo fosse uma enorme surpresa, como se não houvesse, há anos, suficientes sinais sonoros da longa degradação do Serviço Nacional de Saúde. Depois, entrou em cena António Costa, primeiro-ministro de um Governo absoluto que já parece cansado ao fim de três meses de vida. Para segurar a ministra no cargo, mas sobretudo para reconhecer que não considera "aceitáveis estas falhas de serviço". O plateau das evidências foi posteriormente tomado pelo presidente da República, que se manifestou agradado pelo facto de o primeiro-ministro ter reconhecido que "há problemas estruturais, graves, situações inaceitáveis" na Saúde. Porque, acrescentou Marcelo, "o povo vive de uma maneira e os que estão com maiores responsabilidades políticas não veem essa realidade toda".
A semana não terminou sem que a diretora-geral da Saúde tratasse mais uma vez os portugueses como crianças de colo, ao pedir-lhes o enorme favor de não padecerem em agosto, porque esse é o pior mês para "se ter acidentes ou doenças". Durante a apresentação do Programa Juntos por um Verão Seguro, Graça Freitas aconselhou ainda os cidadãos a ligarem o ar condicionado em locais fechados, a beberem água quando está calor e a evitarem o bacalhau à Brás nos piqueniques de família: "É uma coisa pré-feita de manhã, aquece-se, não chega a aquecer e os ovos são uma cultura de salmonela". Não satisfeito, o presidente da República reforçou a mensagem: "Cada qual fará o esforço para não estar doente, por si mesmo, e para não pressionar o cuidado da saúde dos outros". Por isso, já sabe: neste verão, fique em casa. Pela sua saudinha. Portugal regressa em setembro.»
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