2.6.22

Eterno retorno das crises

 


«A crise implica sempre escassez de um qualquer recurso, seja ele financeiro, energético ou outro. Portugal parece viver, em períodos curtos, numa lógica de eterno retorno a essa penúria causada por diferentes fatores.

Atualmente, em consequência da guerra, vivemos uma crise de escassez de bens energéticos e alimentares, o que está a provocar a subida acelerada dos preços e uma pressão considerável sobre os orçamentos das famílias e das empresas.

Apesar de termos desprendido um dos pés das areias movediças da crise sanitária e económica provocada pela pandemia de covid-19, estamos já com o outro bem enterrado no terreno da espiral inflacionista.

Um interessante projeto da Fundação Francisco Manuel dos Santos, que dá pelo nome de "Crises na economia portuguesa", mostra de forma científica que o país viveu seis recessões em apenas quatro décadas, sem contar com a atual conjuntura, que indicia um eventual sétimo episódio de aperto nas finanças de todos nós. E de que crises falamos? A de 1983/84, a de 1992/93, a de 2002/03, a de 2008/09, a de 2010/13 e a de 2019/20. A primeira delas (1983/84) tem algumas semelhanças com o presente, uma vez que implicou uma alta do preço do petróleo (bem maior do que os solavancos dos últimos meses) e, por arrasto, dos bens essenciais. À semelhança de 2022, a inflação tornou-se uma dor de cabeça. O resgate da economia por parte do FMI foi inevitável.

Tal como na Física, os próximos episódios são uma incógnita, assentando no princípio da incerteza. Vamos cair numa crise resultante da espiral inflacionista? O custo de vida vai aumentar, não pelo corte dos rendimentos (como aconteceu em 2010/13), mas antes devido à escalada dos preços, sem o devido contrapeso da atualização salarial? Os pedidos de ajuda alimentar vão continuar a crescer? A crise económica e social é inevitável? A regra do eterno retorno à crise, em ciclos curtos de tempo, vai ser de novo confirmada?»

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