19.6.22

Ignorar as necessidades de saúde de 100 milhões de deslocados não é uma opção

 


«“Ainda não encontrei uma forma de me manter calma. Sinto-me assustada a toda a hora. Pessoas como eu precisam de cuidados de saúde mental porque nos sentimos completamente desorientadas e perdidas. A minha mãe está na mesma situação - chora, vê as notícias no telemóvel e não faz ideia do que vai acontecer a seguir. A minha irmã mais nova também - não quer brincar ou socializar, só quer ir para casa”. Este é o testemunho de Olga, uma mulher ucraniana de 20 anos que acabou de regressar a casa e que descreve a sua experiência como refugiada.

Este mês assinalaram-se 100 dias de guerra na Ucrânia. Milhões de pessoas viram-se forçadas a deslocarem-se desde o início da guerra, sofrendo com o stress e a incerteza. Mais de 4,7 milhões de refugiados fugiram para países vizinhos e países de acolhimento. Milhões de pessoas estão desalojadas dentro das fronteiras do país. Tenho visto com os meus próprios olhos o impacto devastador na vida e na saúde da população quando visito a Ucrânia, a Polónia, a República da Moldáva e a República Checa. A Europa está a assistir ao maior movimento de refugiados dos últimos 75 anos.

Hoje é o Dia Mundial dos Refugiados. Hoje celebramos a força e a coragem das cerca de 100 milhões de pessoas que tiveram de fugir dos seus países de origem, o equivalente ao total da população da Alemanha e dos Países Baixos. Não satisfazer as suas necessidades de saúde não é uma opção no mundo interligado onde vivemos.

Neste momento, assistimos a uma necessidade crescente de serviços de saúde mental e de apoio psicossocial adaptados aos refugiados à medida que estes chegam aos países de acolhimento vindos da Ucrânia. A saúde mental e o bem-estar psicossocial destes indivíduos - a maioria deles mulheres e crianças - têm sido, em muitos casos, profundamente afetados pelas suas experiências, incluindo a exposição a eventos que ameaçam as suas vidas, deslocações, interrupção das ligações familiares e sociais, perda de casas e de meios de subsistência, falta de acesso a cuidados de saúde, educação e serviços sociais e receio pelos que permanecem em zonas de conflito.

Viver num cenário de conflitos armados, guerra, migração, separação familiar, testemunhar atrocidades e outros acontecimentos que ameaçam a vida pode ter consequências negativas imensas e muitas vezes duradouras para a saúde mental.

Na fase mais crítica, a maioria das pessoas vai experienciar sentimentos de angústia, ansiedade, tristeza, desespero, desesperança, dificuldade em dormir, fadiga e irritabilidade. São reações naturais e a maioria das pessoas vai melhorar com o tempo. No entanto, à medida que o conflito continua, o risco de desenvolver transtorno de stress pós-traumático aumenta drasticamente, especialmente se um indivíduo for diretamente afetado pela guerra, ou seja, se perder um ente querido ou sofrer ferimentos, por exemplo.

As crianças são especialmente vulneráveis neste contexto. Experiências altamente angustiantes podem influenciar o seu bem-estar psicológico, resultando frequentemente em problemas comportamentais e emocionais significativos.

É premente que os refugiados tenham acesso a cuidados de saúde de qualidade, incluindo de saúde mental e serviços de apoio psicossocial.

Isto aplica-se a todos os refugiados, independentemente da sua origem. Lembremo-nos que ninguém escolhe ser refugiado. São pessoas que foram forçadas a sair das suas casas devido a conflitos, perseguições ou catástrofes naturais.

O Escritório Regional da Organização Mundial de Saúde para a Europa está a apoiar países de toda a Europa e da Ásia Central a satisfazer as necessidades sanitárias dos refugiados, independentemente da sua origem, para complementar os serviços e apoios existentes.

Isto significa atender às necessidades sanitárias imediatas e ajudar os países a construírem sistemas de saúde adequados aos refugiados, que considerem as barreiras culturais e linguísticas. A OMS/Europa enviou peritos, logo após o início da guerra, para a Ucrânia e para os países vizinhos para iniciar o complexo processo de coordenação da saúde mental e apoio psicossocial, para informarem os refugiados que chegam com questões de saúde mental pré-existentes sobre onde obter ajuda - quer se trate de medicação psicotrópica ou de aconselhamento.

Temos de reconhecer o facto de que o grande número de refugiados que chegam tem impacto nos sistemas de saúde, mesmo em nações mais prósperas. A antecipação e preparação para tais situações é ainda mais necessária no mundo conturbado de hoje, contribuindo para a resiliência dos sistemas de saúde e protegendo o direito à saúde para todos - incluindo aqueles que, sem culpa própria, tiveram de fugir das suas casas e pátrias.

Vamos apoiar os refugiados em toda a Europa e em todo o mundo, convertendo a solidariedade em ações práticas e sustentáveis - agora e no futuro.»

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