4.7.22

Pedro Nuno Santos

 


«Pedro Nuno Santos é uma das raras figuras nacionais do PS com uma trajetória político-ideológica. Chamem-lhe dogmatismo, se quiserem, ou coerência, se preferirem o elogio à crítica. Mas a verdade é que navega orientado por uma ideia: é preciso que o PS não tenha vergonha de ser socialista. Ideia esta que, por sua vez, combina com uma estratégia política que nunca escondeu: é preciso um governo do PS apoiado pela esquerda. E sendo que à ideia e à estratégia se associa um discurso económico-social sobre o país, no qual a noção de povo inspira simultaneamente justiça social e mobilização produtiva do Estado.

Haverá certamente razões para objetar ao comportamento do ministro na última semana, mas não nos iludamos. É por ele ter uma ideia que não falta quem lhe chame radical. É porque a ideia que tem envolve uma estratégia que não falta quem lhe critique a ambição. E é porque o seu discurso sobre o país mete as mãos na economia que não falta quem o considere irresponsável. Assim é e será enquanto continuarmos a dar por adquirido que responsabilidade é deixar os mercados entregues à sua vidinha, sem fazer grandes ondas; que a ambição é um exclusivo dos empresários e outros empreendedores de causas individuais que começam e acabam na sua própria pessoa; e que as ideias, estas, são matéria para mero consumo filosófico ou para mais um qualquer fórum republicano de reflexão.

Não sei se os danos de reputação sofridos recentemente pela figura de Pedro Nuno Santos são irreparáveis. Se forem, o principal prejudicado será o PS. Deixará terreno livre à sua esquerda, que é para o lado em que eu durmo melhor, mas tornará a vida mais fácil às novas direitas. É que as ideias, a estratégia e o discurso de Pedro Nuno Santos são também os que, no espaço do PS, mais capacidade terão de disputar terreno - se não a curto, pelo menos a médio e longo prazo - às novas direitas. O discurso económico de Pedro Nuno Santos é coletivista onde o da Iniciativa Liberal é individualista, mas em ambos os casos há a noção de que a economia se faz de moralismo quotidiano e de idealismo histórico. Quanto ao Chega, se encontra frontal oposição no socialismo desavergonhado de Pedro Nuno Santos, encontra igualmente aí uma esquerda que não tem medo de ser apodada de populista.» 

Zé Neves no Facebook
(Assino por baixo.)
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