18.8.22

E ao sétimo dia, Medina falou. E nada disse

 


«Ou seja, depois de uma semana de silêncio absoluto, vem Fernando Medina de coração partido comentar em palavras curtas a renúncia do consultor imprescindível à sua missão nas Finanças. Sem explicações, arrependimentos ou pedidos de desculpa, que o que Medina decide é lei e ai de quem se atreva a contrariá-lo (se não acredita, passe os olhos pelos vídeos das reuniões de câmara dos tempos em que Lisboa estava às ordens do atual ministro das Finanças).

Em sete dias de incredulidade nacional - ao menos entre aqueles que ainda não consideram aceitável que um governo trate os cidadãos como subalternos obedientes, calados à força de esmolas - face ao desplante de (mais) um ministro que pretende contratar um consultor externo para mediar e avaliar as suas relações com aqueles que tutela, nem uma palavra se lhe ouviu.

Em sete dias, nem por um momento saiu Medina em defesa das extraordinárias qualidades e talentos de um braço-direito insubstituível na missão de melhorar o país e acabar com a miséria cavada dos portugueses.

Em sete dias, nunca o ministro das Finanças sentiu que devia explicar por que havia necessidade de contratar alguém com quem dividir o trabalho, ou porque não confiava essa missão aos serviços públicos criados para o efeito, ou porque não podiam ser os de dentro, os dos quadros, a fazer o trabalho que teimou em pôr nas mãos de um consultor externo.

Nem sequer quando Costa veio lavar as mãos perante o povo, dizendo que não mete a sua foice nas searas dos seus ministros e cada um que governe a casa como bem lhe aprouver - independentemente de ser sobre os contribuintes que cai a fatura dos gastos e dos erros dele e dos seus -, Medina falou.

Por fim, Sérgio Figueiredo, abandonado na praça pública e sentindo-se acossado por um país de invejosos, desistiu de ser consultor de ministro a receber mais do que o ministro e a ganhar espaço para tudo quanto a não-exclusividade de que beneficiaria pudesse pôr-lhe no caminho.

Então Medina falou. E no elogio póstumo, disse que "lamentava profundamente" a recusa, mas "entendia muito bem as razões" de alguém que poderia ter dado um "valioso contributo ao serviço do interesse público".

E mais não disse, nem respondeu, que um governante não tem de dar satisfações a ninguém. Nem sequer esclareceu se vai agora tentar obter esses "valiosos contributos" remunerados para desenhar políticas públicas junto de outros "destacados analistas", talvez pagos à peça para não parecer mal, ou se vai resignar-se a recorrer aos préstimos dos muitos especialistas nos quadros do Estado, que têm competências de sobra e a quem ofendeu profundamente com o desvario.»

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