27.8.22

Marcelo pressiona Governo a avançar com as medidas anti-crise

 


«Volto hoje à sua caixa de correio, depois de uns dias na cidade onde nasci – Viana do Castelo – a viver a romaria da Senhora d’Agonia, suspensa durante dois anos como quase tudo no país por causa da covid. É uma festa única, sobre a qual até escrevi aqui. Se não conhece, fica a sugestão. Mas programe tudo com antecedência porque, mal a data é anunciada (sempre num fim de semana de Agosto), os hotéis ficam lotados e a preços estratosféricos.

A romaria funciona como uma espécie de interrupção da realidade. Infelizmente, se em nome da sanidade mental temos todos o direito a fugir brevemente da realidade, ela não desaparece connosco: a pavorosa guerra da Ucrânia fez agora seis meses e a Europa depara-se com inflação a disparar, euro abaixo do dólar e uma crise energética grave. É na perspectiva de um Inverno assustador nos países da União Europeia que, ao que parece, Putin aposta todas as fichas.

Esta semana, o Governo anunciou algumas medidas para travar a escalada dos preços da energia, permitindo o regresso ao mercado regulado para quem tinha optado pelo liberalizado em matéria de gás. O Presidente da República não se quis pronunciar sobre a medida concreta – lá disse o velho "não conheço o diploma" –, mas pressionou duramente o Governo a avançar com medidas anti-crise como faz a Espanha, a França e a Itália.

Foi na inauguração da Feira do Livro de Lisboa que disse que estava à espera de ver o "pacote global" de medidas de mitigação da crise e lembrou que, ao contrário do que se está a passar nesses países, "em Portugal isso não está a acontecer". França, Itália e Espanha tomaram "medidas muito diferentes" que o Presidente da República não tem "visto serem tratadas em Portugal", "medidas muito globais, muito abrangentes e bastante ambiciosas, porque não são só de energia".

Recusando-se a comentar o anúncio do ministro Duarte Cordeiro, Marcelo mostrou-se mais interessado em perceber o "todo". "Não me vou pronunciar sem perceber qual o grau de intervenção que vai haver da parte do Governo: em vários países há aumentos, mas o que interessa é ver as medidas de mitigação ou compensação que existem, quais são e qual o alcance".

Hoje, o Presidente voltou à carga: lembrou que houve países a optarem pela descida do IVA – a "solução fiscal" – e que continua à espera de ver o "pacote global" que o Governo prometeu para Setembro, quer ele seja apresentado em conjunto ou "às fatias", palavra de Presidente.

Para um Presidente da República frequentemente acusado de ser o chapéu-de-chuva do Governo – e foi-o várias vezes, o que lhe retirou alguma popularidade na sua família política –, é de registar a mais que óbvia pressão para que o Governo avance com medidas concretas para mitigar a crise, com algum lamento por haver pouca informação disponível até ao momento. Com a inflação, a crise energética e uma guerra em solo europeu, ninguém sairá ileso. Ou saem os mesmos: aqueles que conseguem lucros extraordinários à conta do mal dos outros.»

Ana Sá Lopes
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1 comments:

Niet disse...

O PR Marcelo sabe do que o PS actual é capaz e faz arremetidas contra o edénico "bonzo" Costa, que
pode näo saber ou duvidar,murmura-se em Bruxelas,de que existem planos de corte nas verbas do PRR
que acabaräo por estilhacar a táctica salvadora da " sua " maioria absoluta assente nessa mágica inventada por Merkel-Schölz e Macron nos bons velhos tempos do declinio do Covid-19...Mas o desenlace da Crise italiana também causa calafrios ciclópicos nas chancelarias, esperando-se uma derradeira alocucäo de urgência e dramatismo de Draghi na recta final das Legislativas previstas
para o próximo 25 de Setembro.Mas nem Medina nem Cordeiro parecem estar à altura de se confrontarem contra as vagas tempestuosas de uma inflacäo circular que näo pode nem deve ser
combatida por medidas de austeridade, como avisam Stiglitz, Artus e Adam Tooze. Niet