23.9.22

Ensino tendencialmente incomportável

 

@João Fazenda

«Apesar de tudo, ainda há razões para ter esperança. A falta de professores é perturbadora, claro, mas pode ser contrabalançada em breve pela falta de alunos, o que sempre tranquiliza. Boa parte dos alunos universitários não consegue encontrar casa a um preço acessível. Por outro lado, há queixas incompreensíveis. De acordo com os jornais, um aluno queixa-se de pagar 300 euros por mês para pernoitar numa despensa. Pode dormir sossegado, com vista para dois ou três pacotes de arroz, e ainda se queixa. É improvável que consiga ter acesso a pacotes de arroz de outro modo, tendo em conta o aumento dos preços dos bens essenciais. Oferecem-lhe a oportunidade de contemplar arroz e ele não fica satisfeito. Uma coisa é reclamar o direito a ter condições de alojamento decentes, outra é fazer exigências mirabolantes.

Com sorte pode ver passar um ratinho ou meia dúzia de baratas e, sendo competente a caçar, ficar com uma ou duas suculentas refeições gratuitas. Uma vez que esta, como a maior parte das despensas, não terá janelas, o aluno evita a arreliadora entrada de luz no quarto, pela manhã, que tantas vezes nos acorda. Mas já se sabe como é esta geração: pensam que tudo lhes é devido e Deus os livre de dormirem na companhia de bens alimentares a troco de 10 euros por noite. Com a costumeira tendência para a vitimização, fazem as contas ao preço por metro quadrado e concluem que a renda é exorbitante. Não lhes ocorre calcular o valor do centímetro cúbico e verificar que fizeram, afinal, um bom negócio. Quando lhes disseram que era preciso ter notas para chegar à faculdade, não perceberam que se tratava de notas de cem. Com esta deficiente capacidade de interpretação não irão longe nos estudos superiores. A hipótese de arranjarem um emprego também não lhes ocorre — o que é pena, porque assim solucionariam dois problemas: se estudassem durante o dia e trabalhassem durante a noite, não só conseguiriam pagar a renda da despensa como não teriam tempo de ir lá dormir, o que seria excelente, visto que lhes causa tanta repugnância.

Quem paga 300 euros por uma despensa tem um nível de vida superior ao de muita gente que, em proporção, gasta muito menos por uma casa inteira. São privilegiados e ainda se queixam. Excêntricos com despensas caríssimas a queixarem-se de viver mal. Haja paciência!»

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