19.9.22

Um país caro de mais para estudantes

 


«Esta semana, sucederam-se as notícias sobre a falta de alojamento para estudantes universitários sobretudo nos grandes centros urbanos, onde estão as maiores faculdades. Em Lisboa, em particular, foram noticiados quartos a preços exorbitantes. O que são preços exorbitantes? 600 euros por um quarto que resulta de uma sala dividida ao meio ou 300 euros por uma “despensa”.

Cada proprietário faz o que bem entende com os seus imóveis e ganha a vida como melhor sabe: alojamento local, turismo de luxo, aluguer a famílias ou a imigrantes, etc. Não são todos especuladores e não lhes cabe a eles resolver um problema que foi criado por outrem.

Querer uma cidade moderna e atractiva, mas também low cost, que ganha dinheiro com turistas em vez de o ganhar com impostos resultantes da construção desenfreada tem alguns benefícios, sem dúvida, mas também tem consequências devastadoras para alguns. E, como vimos esta semana, não é só para as jovens famílias que se vêem obrigadas a sair para os subúrbios para conseguirem ter uma vida melhor.

É também para os estudantes universitários que, em alguns casos, são os primeiros da família a vir para a faculdade e não têm um primo ou um tio em Lisboa que os receba em casa por um preço simbólico — como acontecia muito no meu tempo de estudante. O drama dos pais destes miúdos não é novo, mas, quando 80% dos quartos que havia para alunos estão a ser retirados do mercado, passa de drama a tragédia. E a necessidade de novas residências universitárias passa a ser uma emergência nacional.

O que podemos fazer para que não haja alunos impedidos de seguir o curso em que entraram por mérito próprio por falta de alojamento? Podemos encarar isto como encarámos a pandemia, criando soluções temporárias (antes das residências definitivas)? Chegámos a isolar “covidados” no Zmar e agora não encontramos instalações públicas encerradas que possam ser úteis? Um quartel fechado há anos? Um forte que só recebe chefes de Estado de vez em quando? Uma ala num antigo hospital militar?

Há aqui um tipo novo de pobreza... e não é de espírito. Uma pobreza que acaba por perpetuar e dar mais peso à elite lisboeta que não precisa de sair de casa para ter acesso ao melhor ensino, à melhor saúde, aos melhores transportes e salários, às melhores oportunidades.

Quando me instalei em Lisboa senti muito o peso dessa elite, mas acredito que quem cá vive nunca tenha sequer olhado para as coisas por esse prisma.

Por enquanto preocupa-nos a falta de professores, que se agrava de ano para ano, e a falta de quartos condignos a preços suportáveis para os estudantes que vêm de fora. Qualquer dia, vamos preocupar-nos também com a falta de alunos, quando boa parte dos colocados desistirem de ocupar as vagas por não conseguirem pagar uma despensa a 300 euros (seria importante saber se já há casos desses e quantos). Pobreza também é isso.»

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