28.11.22

O subterrâneo caminho da liberdade na China

 


«Segundo a Wikipédia, “as Equações de Friedmann são um conjunto de equações em cosmologia física que governam a expansão métrica do espaço em modelos homogéneos e isotrópicos do Universo dentro do contexto da Teoria Geral da Relatividade”.

Nos protestos, de uma dimensão inédita em anos recentes na China, alguns estudantes da Universidade Tsinghua, em Pequim, seguraram folhas A4 com a principal equação do conjunto de Friedmann. Mas, como explicava Nathan Law, activista de Hong Kong exilado em Londres, os estudantes estão pouco interessados nos caminhos abertos por Einstein, mas antes na forma como se pronuncia o nome da equação, algo similar a “free man” (homem livre).

Não se deve desvalorizar a carga política das manifestações que têm irrompido na China, por elas surgirem como reacção às restrições da política de “covid zero”. A China é uma ditadura, um país dominado por um partido único, onde qualquer manifestação de divergência política é firmemente abafada.

Com vários surtos a resultar em 40 mil casos, o valor mais elevado desde a eclosão da pandemia no final de 2019, com a economia a esmorecer e, principalmente, com a violência para milhões de vidas que têm sido as drásticas medidas de isolamento, os chineses perguntam-se como o resto do mundo pode estar aos pulos, sem máscara, nas bancadas do Mundial de futebol.

O desespero, pelo cansaço resultante das opressivas medidas contra a covid, dá aos manifestantes chineses o impulso para levar para a rua a sua insatisfação, mas revelam que o mal-estar tem raízes mais profundas, quando o verbalizam com slogans pela deposição do Presidente Xi Jinping, contra a censura e a favor da democracia. Esse sistema imperfeito, onde dificilmente uma decisão que se está a revelar absurda sobreviveria muito tempo à teimosia dos que detêm o poder.

Fazem-no com a coragem de quem põe em risco a sua vida e com a imaginação de usar as equações de Friedmann ou simples papéis em branco para dizer do muito que os oprime. Não é só a covid, como no Irão não foi só o véu e a condição das mulheres. Os jovens de ambos os países sabem bem que, para mudar a substância do mal que enfrentam, para terem um futuro aceitável, é preciso derrubar o sistema.

Para os que acreditam que o futuro do mundo está em causa numa guerra travada nas planícies geladas da Ucrânia, onde é preciso mostrar que não é a lei do mais forte que deve prevalecer, não deixa de ser reconfortante ver que o desejo de liberdade continua a fazer o seu libertador caminho subterrâneo, mesmo no meio das mais sombrias ditaduras.»

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