7.11.22

Vai fogoso e não seguro

 


«Há um problema sério com Marcelo Rebelo de Sousa e temos de lhe pedir que o resolva, porque uma maioria absoluta no Parlamento sem um Presidente absolutamente determinado em combater os abusos dessa maioria, é um desperdício de tempo e de talento. O talento de um comunicador que soube captar a atenção de uma parte dos portugueses que estava desligada da política, que rebentou com as audiências do comentário político na televisão, que se fez do povo vindo da elite, que virou a estrela das selfies aquém e além mar. Não aproveitar esse talento para exigir que o Executivo explique prontamente todos os casos que se dão à estampa, incluindo o do secretário de Estado-adjunto do primeiro-ministro, é deixar no governo a sensação de que pode andar em roda livre. Daí para o rolo compressor é um passinho.

Miguel Alves veio, entretanto, dar algumas explicações, numa entrevista ao JN/TSF, mas não deixou escapar a oportunidade de apontar o dedo ao mensageiro, apresentando-se como vítima do "preconceito" em relação a quem está fora da "corte" mediática de Lisboa. Um preconceito que existe, sobretudo, na sua opinião, porque as coisas aconteceram em Caminha. Tendo demorado dez dias para responder, o tempo que considerou necessário para escrever uma carta à PGR, o secretário de Estado lamenta que "estes dias, com este enredo de insinuações e suspeições, acabam por prejudicar e atacar a minha credibilidade", mas reconhece que sem este escrutínio do jornalista José António Cerejo não se conheceriam algumas mentiras do currículo do promotor. Não tivesse havido notícia e, provavelmente, também não teriam existido os desenvolvimentos positivos nesta história. Agora, é difícil o dinheiro ficar perdido no imaginário de uma obra não concretizada. Miguel Alves precisou de 10 dias para dar explicações e o que queria, afinal, é que o víssemos como a vítima da história.

Regressemos ao fogoso comentador, inquilino do Palácio de Belém, que corre atrás de cada notícia e que nelas tem andado a tropeçar com muita frequência, obrigado a corrigir o tiro. Dele nada se ouviu sobre o adjunto de António Costa e bem que lhe podia ter lembrado que "quando se aceitam funções políticas é para o bem e para o mal. Não somos obrigados a aceitar, sabemos que são difíceis e sujeitas ao controlo e escrutínio crescentes". Isto foi dito por Marcelo, mas dirigido a uma ministra com quem o Presidente entendeu fazer troça. Coragem era ter lançado a ameaça sobre a número dois do governo (Mariana Vieira da Silva), que é quem tem a gestão do PRR, ou mesmo sobre António Costa, responsável por tudo o que acontece no governo. Mas é já evidente que o Presidente tem receio da reacção do primeiro-ministro.

Marcelo sempre foi divertido e essa é uma característica que joga a seu favor. Seja a fazer análise política, seja no exercício da função presidencial, convém é que nunca perca a noção dos limites, o povo na sua imensa sabedoria está cá para lembrar ao Presidente que "mais vale cair em graça do que ser engraçado".»

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1 comments:

Niet disse...

Maquiavel e Nietzsche säo bussolas incandescentes que iluminam a psicologia da profundidade,a
psicanalise,e que estruturam a micro-politica dos nossos instantes subjectivos mais geniais." A incapacidade dos génios em se dominarem, as suas invejas,o mau feitio e a incerteza do seu caracter tornam-os também sem dificuldade em predadores da humanidade de que poderiam
ser os benfeitores.Em particular,o comportamento dos génios entre eles é uma das páginas mais
sombrias da História. A veneracäo do génio foi muitas vezes uma inconsciente adoracäo do diabo ".Niet