4.12.22

Misoginia e idadismo

 


«Jacinda Ardern, primeira-ministra da Nova Zelândia desde 2017 e mãe durante o exercício do cargo, está habituada a responder a perguntas sexistas.

Sanna Marin chegou à liderança do Governo finlandês com 34 anos e já terá perdido a conta ao número de vezes em que a sua maturidade foi questionada. Havendo um encontro entre as duas, seria de prever que chovesse algum comentário típico da era em que se achava natural que o lugar das mulheres fosse a organizar o chá das cinco.

Perante um jornalista que questionou se iam encontrar-se "apenas por causa" da idade próxima e outras coisas em comum, Jacinda Ardern não disfarçou o incómodo (embora mantendo a compostura), começando por sublinhar que nunca fariam tal pergunta a Barack Obama e John Key (ex-primeiro-ministro neozelandês), que nasceram com poucos dias de diferença em 1961. "Temos uma percentagem maior de homens na política. É uma realidade. Mas porque duas mulheres se encontram não é simplesmente por causa do seu género", acrescentou Jacinda.

Pode sempre desvalorizar-se o episódio, já que a pergunta absurda e discriminatória do jornalista apenas o responsabiliza a ele. O problema é que a desigualdade e discriminação de género continua a ser um problema, por mais que passem os anos e se multipliquem medidas de promoção da igualdade. E mesmo não havendo já a desculpa do fator novidade. Destacamos a primeira chegada de uma mulher a um determinado cargo quando ela é sinal de uma mudança social positiva. É suposto que o género deixe de ser notícia quando se torna irrelevante. Infelizmente, está longe de ser o caso.

Socialmente, a discriminação com base na idade, o chamado idadismo, afeta mais os idosos. Em cargos de grande responsabilidade, contudo, acontece com frequência o inverso e rapidamente a juventude é associada a imaturidade ou falta de capacidade. Ser mulher e jovem na política ou noutros cargos de liderança é duplicar os fatores de discriminação. Mesmo quando se aparenta sublinhar positivamente a diferença ou a conquista. Caminhamos, mas em muitos valores essenciais demoramos a sair do mesmo sítio. E não há atalhos, porque a cidadania exige que se faça o caminho completo.»

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