«O Banco Central Europeu (BCE) vai aumentar hoje a taxa de juro diretora, mimetizando uma decisão tomada ontem pela Reserva Federal norte-americana. O dinheiro vai ficar mais caro. Na realidade, já está. O tema infiltrou-se quer na mais privada conversa de café sobre o preço dos bens alimentares quer na discussão pública sobre a despesa decorrente da visita papal à Jornada Mundial da Juventude, em agosto.
Quando discorremos sobre o custo de vida, convém não perder a noção da realidade. O BCE tem o objetivo louvável de fazer regressar, a prazo, a inflação aos 2%, mas ninguém sustenta a família com esse fim em mente. É necessário agora ter 1091 euros para comprar os mesmos bens e serviços que custavam 1000 euros em 2019.
E será que 91 euros representam um gasto significativo? Os salários perderam valor ao longo do tempo, quer devido à inflação quer à ausência de atualizações em muitos setores de atividade. Em segundo lugar, mesmo que tenha ocorrido um aumento na remuneração, esse acréscimo é facilmente absorvido pela subida dos custos com telecomunicações ou com combustíveis.
Dando o salto do lado dos problemas para o lado das soluções, ninguém desdenharia que o Governo português eliminasse o IVA nos alimentos essenciais, à imagem do que sucedeu em Espanha. No entanto, verificou-se no país vizinho que muitos comerciantes aproveitaram a medida para manter ou até aumentar as suas margens, anulando assim o impacto pretendido.
A liquidez dada pela menor retenção de IRS, medida tomada em Portugal, pode revelar-se eficaz, embora muitos temam que seja insuficiente. O mesmo se poderá dizer das ajudas diretas às famílias. Portugal era e continua a ser um país de baixos salários. O paradigma tem de mudar. Fixar os melhores é um objetivo viável se as vistas não forem curtas. A inflação até pode "ir embora" mais cedo do que se espera, como diz o Governo, mas os nossos jovens qualificados vão esperar?»
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