20.2.23

Os esquecidos dos sismos

 


«Faz hoje duas semanas, a terra tremeu violentamente na Turquia e na Síria. Nos últimos dias, o mundo comoveu-se com as histórias de sobrevivência de gente que desafiou todas as probabilidades e foi retirada com vida dos escombros dos prédios onde viviam. Não haverá muitas mais para contar. Ontem as operações de busca foram oficialmente suspensas na maior parte do território turco.

O último balanço ronda os 45 mil mortos, a maioria na Turquia. Mas, duas semanas depois, continuamos a não ter noção real do que se passa na Síria.

Várias organizações têm lançado apelos dramáticos sobre a situação no Noroeste do país. Estamos a falar de uma região controlada por forças opostas ao Presidente Bashar Al-Assad onde mais de quatro milhões de pessoas já dependiam de assistência humanitária antes dos terramotos.

Mas, depois dos sismos, o apoio humanitário não só não aumentou, como foi travado a fundo.

“Temos falhado com as pessoas no Noroeste da Síria. Sentem-se abandonadas com razão”, reconhecia, há dias, Martin Griffiths, secretário-geral da ONU para os Assuntos Humanitários.

Duas passagens fronteiriças para a zona mais afectada pelo sismo, que Assad manteve fechadas nos últimos anos, foram entretanto aprovadas pelo Conselho de Segurança. Mas os dias passam – e as poucas organizações no terreno continuam a traçar o cenário de uma região esquecida.

O apoio que tem vindo a chegar de fora é insignificante, afirmou a Médicos Sem Fronteiras neste domingo. Com um alerta: está a ficar com os armazéns vazios. David Beasley, do Programa Alimentar Mundial, disse o mesmo à margem da Conferência de Segurança de Munique. Está a ficar sem dinheiro para a operação na Síria.

O que se está a passar naquela região já devastada pela guerra, e onde se estima agora que 8,8 milhões de pessoas precisem de apoio, exige um nível de solidariedade internacional que não temos estado a ver – os EUA acabam de dar um sinal com um reforço de 100 milhões de dólares que se somam aos 85 milhões aprovados anteriormente para ajuda humanitária na Turquia e na Síria.

Mas é também preciso mais empenho político para enfrentar outros obstáculo: os rebeldes que controlam o Noroeste do país estão a dificultar a chegada dos parcos apoios, segundo a ONU; e várias organizações dizem que, se Assad não autorizar a abertura de mais postos fronteiriços, será impossível fazer chegar o apoio necessário.

“A menos que a Europa queira uma nova onda de refugiados”, como disse Beasley em Munique, é essencial que a comunidade internacional deixe de falhar e se envolva a sério.»

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