«Uma das convocatórias do protesto de professores agendado para hoje, com a Ponte 25 de Abril desenhada no fundo, lança o repto: “Pára! Apita! Buzina! Regista!”
A marcha que promete “tudo parado” é organizada por um pequeno grupo de professores e lembra no bloqueio da Ponte 25 de Abril em Junho de 1994 contra o aumento das portagens: depois de vários dias de “buzinão”, meia dúzia de camiões imobilizados pararam mesmo tudo; com o passar das horas, juntaram-se-lhes outras pessoas; houve confrontos com a polícia, chuva de pedras, balas de borracha, detenções, um jovem ficou paraplégico. Um dos mais expressivos episódios de desobediência civil de que temos memória foi para muitos o início do fim do “cavaquismo”. É a esse episódio que o protesto de hoje “pela escola pública” pisca o olho.
Não houve violência em nenhuma das grandes manifestações de rua dos últimos meses. Nem se incendeiam montras, como em Paris por causa das reformas. Mesmo com greves de funcionários de justiça, ferroviários, médicos, enfermeiros, professores, jornalistas, o Presidente da República acha que “ainda não há uma contestação generalizada”. Mas é importante ver como tem reagido a opinião pública à guerra dos professores e surpreendido quem achava que ela se cansaria disto.
As negociações entre sindicatos e Ministério da Educação duram há seis meses e as greves há três. Há alunos sem aulas, pais que nunca sabem quando esbarram nos portões da escola fechados, aprendizagens por recuperar.
Mas a população continua ao lado dos professores. Dia 18 de Fevereiro, sondagem Intercampus para o Negócios, CM e CMTV: 80% dos inquiridos dizem que os docentes têm razão; 25 de Fevereiro, Aximage para o DN, JN e TSF: 65% concordam com as greves; no mesmo dia, Universidade Católica para o PÚBLICO, RTP1 e Antena 1: 84% dos inquiridos acham que as reivindicações dos professores são justas; 17 de Março, Aximage para a TVI e a CNN: 73% apoiam os professores.
Os restantes sectores profissionais em luta, em que não faltam também reivindicações justas, estão seguramente de olhos postos no que vão os professores conseguir. Há mais greves marcadas e o protesto de hoje na ponte tem o simbolismo de mostrar que estão dispostos a ir mais longe.
Num contexto de preocupação crescente com as condições de vida, os professores tornaram-se uma espécie de pontas-de-lança da contestação social. Do desfecho deste dossier – Marcelo voltou a pressionar, é importante que as negociações “cheguem a bom porto”, declarou na sexta-feira – dependerá muito o clima social com que o Governo terá de lidar nos próximos tempos.»
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