1.3.23

Um país "impressionante"

 


«O ministro das Finanças acha "impressionante" a evolução da dívida pública para 113,8% do PIB (Produto Interno Bruto, ou seja, a riqueza gerada pelo país durante um ano). Talvez tivesse razão para isso, se o país fosse uma folha de Excel.

No entanto, se partirmos do princípio de que o país são as pessoas que nele habitam, parece bem mais "impressionante" constatar que não só a inflação no geral dá poucas tréguas (8,2% em fevereiro), como o preço dos alimentos não transformados disparou 20,1%. Traduzindo, se esta manhã passar pelo mercado e comprar a mesma quantidade de legumes, frutas, peixe e carne que comprou há exatamente um ano, em vez de 100 vai pagar 120 euros. A alternativa é comer menos.

É importante ter em conta, por outro lado, que a redução da dívida pública em percentagem do PIB não quer dizer que o país está a dever menos dinheiro. Significa, isso sim, que o conjunto do país ficou mais rico de um ano para o outro, e que, portanto, mesmo que estejamos a dever agora mais euros do que há um ano, o peso dessa dívida é menor.

Quanto ao facto de o país estar mais rico - na verdade só regressou ao nível de riqueza que tinha antes da pandemia -, que parte do país será essa? Quantos trabalhadores, pensionistas ou desempregados se sentem mais ricos quando vão ao mercado e pagam mais por menos alimentos? Quantos se sentem mais ricos com a acentuada subida do valor da sua prestação ao banco ou com o preço que têm de pagar pela renda de casa?

Dir-se-á, e com razão, que a situação de Portugal não é diferente da do resto da União Europeia. Que também os outros sofrem com o empobrecimento provocado pela inflação e pela subida da taxa de juro. O problema é que os portugueses são bastante mais pobres que o resto dos europeus e não se vislumbra quando deixarão de o ser. Isso, sim, é "impressionante".»

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