«É uma espécie de contentor gigante, três andares, 222 quartos, capacidade para albergar mais de 500 pessoas. Pessoas especiais pelo estigma. São migrantes, sem papéis. Conseguiram atingir a fronteira do Reino Unido, em fuga da guerra ou da fome, à procura de vida melhor. Muitos arriscaram a vida em embarcações precárias, a soldo de redes de tráfico de pessoas. O sonho vai sucumbir, contudo, nesta prisão flutuante, estratégia encontrada pelas autoridades britânicas para reter a entrada no país dos sem papéis.
Esse país da velha democracia - com um primeiro-ministro descendente de imigrantes originários da Índia, onde a pobreza grassa - aplica das mais duras políticas contra a imigração. Fora da União Europeia, sem os condicionalismos impostos pelos 27 para o acolhimento de estrangeiros, e à revelia de todos as leis que protegem os direitos humanos, a cada dia, de Londres, surgem verdadeiras desumanidades. Os argumentos usados pelo Governo inglês encaixam na perfeição nas teses extremistas dos que veem nos migrantes uma ameaça, embora reclamem por falta de mão de obra no país. Sunak não recua, sabe que na hora de votar os britânicos não vão esquecer a pressão que as cidades do Sul da ilha estão a sentir perante a chegada de estrangeiros de fora da União Europeia. Diz o primeiro-ministro inglês não ser possível gastar quase sete milhões de euros por dia para albergar em hotéis imigrantes ilegais.
O argumento colhe, como é evidente. A alternativa para os impedir de pôr o pé em terra de sua majestade é encarcerá-los numa barcaça flutuante, por tempo indeterminado. É certo, o Reino Unido vive um problema sério - mesmo assim, bem longe da pressão sentida na Grécia ou em Itália.
Para governar é preciso ganhar votos, nem que para isso seja necessário reter pessoas numa prisão flutuante, para depois as meter num avião com destino a um campo perdido no Ruanda.»
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